domingo, 26 de setembro de 2010

Enfim

Abaixaram a cabeça e fixaram os olhos no chão.
Um, na verdade, olhava para dentro de sí.
O outro olhava mesmo para o chão.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um bom tanto de palavras

Não me diga
eu te amo
como quem
me diz olá

Pode ser
que eu lhe responda
e que peça
pra ficar

Não me diga
eu te amo
pra tentar amenizar
pode ser
que eu me encante
e comece a acreditar

Não me diga
eu te amo
não me escreva
não me ligue
continue seu caminho
mesmo longe de mim

Dança do Coração

O jovem cavalheiro de copas, imaturo e sedutor, acabou encontrando com o rei numa festa realizada na corte. Havia muita luz, brilho e máscaras, apesar da festa não ser temática.

Eis que se iniciou a valsa. O cavalheiro e o rei começaram a dançar- cada um em seu lado, trocando alguns olhares. O rei, princípio, se encantou pela beleza e jovialidade do rapaz. O cavalheiro, vaiodoso, começou então a se mostrar. Ambos eram belos e cheios de muita vida.

Tomando a iniciativa, o rei convidou o moço para lhe acompanhar, num ritmo frenético, sem ter medo de falhar.

Rodopiaram os dois pelo salão, dançaram como se o dia não fosse ter fim. O jovem sorriu e, pronto, foi o suficiente para o rei se apaixonar.

Em meio a tanta gente, o tolo rei foi se aproximar justamente de um belo jovem que só gostaria de aproveitar a juventude que lhe resta sem ter que se explicar.
Tropeços e pisões começaram a acontecer. O jovem cavalheiro atrapalhado pisava no rei sem perceber. Foram horas e horas num ritmo inconstante. Ambos, em certo momento, quase cairam ao chão.

Eis que a festa estava para acabar e , então, o rei começou a demonstrar preocupação:
- Será esta nossa última valsa?
- - Eu não sei, o que você acha?
- Acredito que não.
- Não?
- Que não seja nossa última
- Não sei.
- Não sabe?

A inconstancia do cavalheiro começava a preocupar. O rei todo apaixonado, prestes a se declarar, ouve sorreateiramente em seu ouvido o jovem falar:

- Eu não quero. Eu não posso. Não devo te magoar.
- Não me diga nada disso, apenas vamos dançar.
- Eu não quero. Eu não posso. Não sei como lhe falar.
- Diga logo de uma vez, não posso mais esperar.
- Eu não quero. Eu não posso. É esta minha decisão.

Foi assim que a bela valsa se acabou de prontidão. O rei , triste e decepcionado, foi para sua carroagem; quis partir , ir embora do lugar. Fugir, correr, sumir.

Eis que chega o mensageiro e fala para o rei fujão.
- Meu senhor antes de ir, deve ler o que lhe trouxe.
- Quem me manda tal recado já tão tarde da noite?
- É um jovem sedutor, que carrega corações.
- Me dê logo este bilhete, quero ver o ele que diz.

O rei, então, abriu o papel amassado e leu em bom e auto tom

- Eu te amo e, para sempre, viverás em meu coração.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

oh lala

Não sei porque parei de atualizar este blog. Há muito não sentia vontade de escrever muito menos compartilhar algo por aqui. Sabe-se da comunicação que, necessariamente, não existe objeto sem sujeito e que nada existe sem a intenção de se conhecer – perspectiva compreensiva, tradição que tem por base a fenomenologia. Ou seja, quando se escreve há necessariamente a intenção de que se leia.; há a intençnao de fazer-se lido. E aqui estou.

Muitas coisas aconteceram desde a última atualização , ou seja, dia 14 de março deste ano. Algumas gostaria de compartilhar. Boas notícias merecem ser divididas, mas daí sobram as ruins . O que fazer com elas? Eu poderia dar uma sugestão bem perspicaz ( e mal-educada) por isso não vou além.

Não há como fugir das notícias e dos acontecimentos que queríamos que não tivessem ocorrido: elas já se enraizaram em nossa história , tomaram conta do nosso corpo, impregnaram nossa alma, marcaram nossa essência. Tudo o que somos hoje é reflexo direto de nossas escolhas e de nossas atitudes no passado. Não só das nossas, mas das atitudes de outros que , de alguma maneira, estiveram ligados a nós. Pronto, meu texto acabou e virar um auto-ajuda – literatura que abomino. Voltemos.

Quem sabe algum dia eu volte para terminar este texto. Mas por enquanto, paremos.

domingo, 14 de março de 2010

chinese food

Luzes, flashs, alcool e muito som. Barulho, cigarros, pessoas, abraços, passos, estalos, estilhaços. Vidro quebrado. Só vidro? Pisões, aperto, beijos. Um, dois, três, quatro. Meninos, meninas. Línguas, pênis, vaginas.Chupões, mais bebida, taxi.

Aquela manhã , fria e chuvosa, parecia ser como uma outra qualquer, um dia comum, mais um dia do ano. Ana, e protagonista da nossa prosa, acordou tarde. Acordou e começou a se lembrar da noite agitada que tivera.

Toca o celular:

- E aí guria, onde você está?

- Quem está falando?

- Sou eu sua louca, a Camila!

- Camila..

Eu quero, você quer. Vamos fazer. Vamos. Já esperamos demais. Somos amigas. Nos conheçemos. Eu sempre quis. Viu , e eu sempre soube. Eu disse isso alto? Beijo.Não!Beijo.Cama.

- Cá, te ligo mais tarde.

- Espera.. é que..

Ana estava trans-tor-na-da. Mal se lembrava do que tinha feito. Não sabia como chegou em casa. Não desconfiava se extrapolou limites, ou se só os aumentou. Ou se nunca existiu.

O quarto está uma bagunça. Há roupas em meio a muito vômito , carteiras de cigarro e litros de destiladas espalhados pelo tapete. Uma ponta jogada em cima do armário e um quarto de doce, perto dos anticoncepcionais.

Vai Ana, me complete. Me mostre o que sabe fazer. Isso, mais rápido. Isso. Cheguem aí. Meninas, fechem a porta. O que eu estou fazendo? O que tem vontade. O que sempre quis. O que eu quero que faça. Hoje eu mando. E quem é você, seu imbecil? Não importa. Nada mais importa.


Que noite foi essa. Que noite foi essa que Ana mal se lembra. Ela tenta esquecer, no intuito de passar por cima , como se nada houvesse acontecido. Ela realmente não se lembra, por estar demasiadamente alterada.

Colocou o tênis. Achou a bolsa. Pegou as chaves. Saiu de casa.

Ana saiu de casa. Perdida em meio a tantos acontecimentos, misturando sonhos, alucinações , desejos do subcosciente e fatos concretos. Misturando alcool com (falsa) felicidade. Colocando pedras de gelo, para tentar cair na realidade. Preenchendo um vazio com bebida, agito, drogas.

Ana vivia a auto-destruição, em forma de diversão. E era feliz. Pelo menos ela gostaria que pensassem assim.




quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Flor de Eliz

E o que será que estava encondido dentro da pequena caixa que Liz carregava? Ninguém sabia o que era, tão pouco se importava. Liz era tratada como uma mera serviçal, um bicho-domesticado- assalariado que recebia para lavar, passar e cozinhar.

O maior mistério que envolvia a vida de Liz se encontrava dentro da pequena caixa. Ela era de madeira, quadrada, do tamanho de um punho fechado. Trazia alguns riscos do lado de fora, era desgastada pelo tempo, quase sem cor. Uma caixa-Liz; que só existe por que está alí.

Liz, mulher toda mal cuidada, se arrastava pela vasta casa , como uma alma penada sem rumo, sem destino. Ligava o "automático" e fazia as tarefas diárias. Já nem pensava, já nem dormia, já nem sonhava. Liz vegetava.

O segredo da caixa-de-Liz , segredo mesmo? Quem diz? Nem Liz sabe que guarda a mais rara de todas as jóias dentro de uma pequena e frágil caixa. O segredo que Liz escondia, mas que ninguém nunca havia almejado, ou se quer se preocupado com o que na caixa havia, era o pênis de seu marido, cortado há uns 2 ou 3 dias.