quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ah,sim.

Era pra ser mais simples, mas e daí, qual seria a graça? Se é tudo tão fácil, tão simples, abro a janela e deixo ir embora com o vento.
Não quero nada dado, nada de graça; cansei de esmolas.
Deixo ir, porque há quem precise mais.
Pratiquemos o DESAPEGO.


domingo, 23 de outubro de 2011

é a vida

Caminhar sozinho nem sempre é fácil. Na maioria das vezes não é. Olhar para os lados e sentir-se abandonado pelo acaso, solto pelo pasto como animal que se quer domar, adestrar, mas não se consegue. Os caminhos a percorrer nem sempre são tranquilos : há obstáculos, aqui chamados de provações. E sim, é preciso enfrentá-los.

Cada barreira que visualizamos no decorrer do nosso caminhar, é passível de enfrentamento e superação. Cada dor causada pelas experiências, as quais muitas vezes somos obrigados a enfrentar, nos engrandecem e nos deixam mais próximos de quem realmente devemos ser. Fortes. Inabaláveis. Confiantes em nossa capacidade de superação e acreditando, cada vez mais, que nada é impossível quando se tem aquela faísca da perfeição pulsando dentro do nosso peito.

Não desista. Não podemos nos entregar na primeira batalha. Não podemos deixar de acreditar que tudo tem um porque, que tudo tem um motivo de acontecer. E se acontece é sinal de que estamos prontos - nem sempre preparados, mas prontos - para enfrentar o que seja. Por mais paradoxal que se possa parecer, tenho a convicção de que é com amor que as maiores batalhas dessa vida são vencidas. É pelo amor que vamos e voltamos tantas vezes, diversas vezes, inúmeras vezes. É assim que a vida acontece. É assim que se sucedem tantos acontecimentos. E é por isso que não devemos temer renascer quantas vezes for necessário.

De cada situação, uma lição. De cada fato que acontece em nosso destino, um aprendizado. Parece simples quando lido assim, em um texto, e acredite : o é. Perceba o que está em volta, entre em contato consigo mesmo. Respire profundamente e encontre-se com seu eu da maneira mais sútil. Pelo acaso. Pelo acaso afortunado. Todas as respostas para todas as grandes dúvidas estão dentro de nós. Nós somos o nosso destino. Damos a direção - latitude e longitude - de onde a vida vai acontecer. Nos preparamos imensamente, dia após dia, reavaliando as situações e premeditando o que deve ocorrer. Nós somos o nosso maior oráculo.

Somos as cartas, somos os búzios, somos a cigana que lê a mão.
Somos os astros e as estrelas em sua mais pura definição.

E é só vivendo pra se aprender que é só com amor, só com ele, que vamos atravessar todos os empecilhos e dificuldades. Vivamos para o amor e pelo amor. Façamos o bem por onde a vida nos levar. Ajudemos. Façamos nossas orações em favor dos que necessitam. Vamos dar aquele abraço em uma alma aflita que, muitas vezes, está faminta: de carinho e de respeito.

São gestos tão pequenos e tão sublimes ao mesmo tempo. Façamos o bem. Façamos o bem. O resto é consequência.











domingo, 16 de outubro de 2011

venta

Fazia tempo que não acontecia. Não sei bem ao certo qual o motivo. A quem quero enganar? Conheço exatamente, como cada polegada do meu corpo . Talvez eu queira me passar a perna, esconder o que esteja profundamente marcado em minha alma, impossível ser camuflado, esquecido, abortado, excluído, jogado, queimado às pressas. Impossível ser reciclado. E se for queimado, sempre vai ficar no ar alguma partícula - alguma ponta negra flutuando, lentamente, caindo, lentamente, e chegando com facilidade ao chão. Por mais que eu tente impedir, depois de riscado o fósforo e incendiado aquele amontoado de sensações - tenho estranhado essa palavra e logo explico porque - sempre vai pairar no ar o vestígio, o resquício, a sobra, o resto. E eu, sinceramente, cansei de restos - ainda mais estes restos do passado em formas demoníacas, assustadoras e com faíscas avermelhadas.

E o sentir? Ah, o sentir. Já nem sei o que sinto, já disse que fazia tempo que não acontecia - não me cobre, não tem o direito. Sensações raras venho vivenciando, o completo vazio preenchido com dúvidas e dores invisíveis aos olhos - mas claras, até demais, ao coração. Confesso que fechei algumas portas, e muitas janelas - o sol me queimava a retina e me deprimia. Não deixei o vento correr por medo de que a poeira sujasse as minhas roupas e madeira frágil da sala de jantar. Tenho pavor da poeira e cansei de passar pano úmido. Cansei. A água sempre foi insuficiente para o tanto de trapo que eu deveria lavar. Sem falar de alguns que abriam todas suas janelas e me traziam os panos, encardidos quase podres, para que eu desse um jeito.

" Ele vai dar conta. Ele limpa."

Janelas escancaradas. As minhas? Fechadas com travas e cadeados - não me perguntem das chaves, esqueci por aí. E o vento não tem piedade, quando você menos espera, ele entra. Pode ser brisa leve, pode ser vendaval - depende de como você esteja disposto a recebê-lo. Ele conhece o seu interior e , atrevidamente, invade pelas menores frestas indo ao seu encontro. Se está preparado, vai ser fácil. Se não estiver, vai ser impossível. Por isso fecho janelas, portas, tapo buracos, escondo chaves, perco as chaves, me tranco e ajoelhado escuto atentamente os estragos causados pelo ar em movimento. Os gritos são os primeiros a chegar, em seguida, temos silêncio. E por fim, as risadas dos que souberam receber este tão exigente visitante. Alívio. Passou.

De uma maneira estranha me sinto tocado por ele. Ele mais destrói do que ajuda. Mais causa o mal do que auxilia. Mas me sinto tocado. Sempre que ele passa me pergunto se estaria preparado para abrir minha casa e recebê-lo - sem medo da sujeira, da bagunça, dos estragos. Seria preciso pensar nas consequências, aceitá-las, e depois tomar posição, sem arrependimentos. E quando me animo a tentar dar alguns passos em direção a porta para tirar as pesadas barras de ferro que a sustenta, me lembro:

- As chaves. Não tenho as chaves.

E tudo volta a como era antes. Me ajoelho, faço uma oração descomprometida e aguardo a próxima visita. Escuto as alegrias e as tristezas, me emociono com as largas risadas e me deprimo quando descubro que o vento , de alguma forma, causou estragos. Eu preciso deixar que ele entre, eu sinto que preciso da mudança, da reviravolta. Preciso dessa bagunça momentânea para depois poder reorganizar meu lar. Tenho sim a necessidade de passar o pano úmido e sentir o sol de novo queimando, dessa vez, minha pele - e não mais a retina.

Sentir. Por mais estranho que me pareça esta palavra hoje, sinto. Sinto! Eu preciso voltar a sentir. Preciso voltar a sentir. Preciso voltar a sentir.

Uma brisa suave ou uma vendaval com muita poeira. Venha. Arrebente minhas janelas, entre sem permissão, invada meu território. Bandeira branca! Espalhe as cartas de um último jogo de tarot sobre a mesa, derrube móveis, faça seu estrago. Chorar ou sorrir. Estas são as duas possibilidades que de uma forma ambígua se unificam em uma só : sentir.

Arrebente as portas. Quebre as janelas.
Eu estou pronto e assumo daqui.

sábado, 27 de agosto de 2011

una llamada perdida

- ¿Si?
- Por favor, no cuelgue. Soy yo.
-...
- Oye, tengo tanto a decirte, tanto que no he podido dormir desde la última vez que nos encontramos. Hay muchas palabras em mi boca, mucha cosa perdida em mi corazón y se que sólo voy a estar bien cuando tu me oís.
-Julio.. es demasiado tarde...
- Le ruego que por favor no digas nada. Cariño, sigo pensando en ti. Ya no sé lo que hacer, me estoy volviendo loco. Nada más importa. La vida no tiene sentido sin ti a mi lado. Recuerdo cuando nos conocimos... su sonrisa.. su sonrisa era tan hermosa. Su piel tan blanca como el algodón. Su toque.. ah cómo te extraño.Soñé que estabas a follarme.. te quiero,aún te quiero mucho, mi amor.¿ Follar por teléfono? ¿Que piensas? Perdóname, ya no sé lo que digo.
- ....Mi amor, con quien hablas? Esta gente no tiene educación. Callaté!
- Estás con alguien? ¿Quién está ahí?
- Julio... ¿Qué quieres? Le dije que no me molestes mas...y..
- Ya no importa. Julio, quiero verte. Te Necesito.Tus besos, tus abrazos. tu. Antes de hacer cualquier cosa, tengo que oir de tu boca que no me amas más.
- Marco, no te amo más.¿ Compreende? no-te-amo-más. Me voy a colgar.
- Julio, no haga eso.
- ¿ O que?
- No me amar más.
- Basta! Ya hice lo que quería. Ahora déjame en paz.
- Si es así que quieres, está bien.
- Bueno. Marco, es que... ¿Qué fue ese ruido? Marco? ¿Qué hiciste?¿Marco?
- Venga cariño, no pierdas tu tiempo en este maricón.


domingo, 21 de agosto de 2011

dolorosa busca

- Maldição

O sol insistia em entrar pelas frestas da janela encardida pelo descuido. Que horas eram? Já não importava. Nada importava naquele momento. Os passos apressados da vizinha de cima a fez despertar.

- Maldita

Correu as mãos pela penteadeira ao lado. Acreditava que com os olhos fechados ilimitava sua visão. O esmalte forte e vermelho brilhava na luz daquela manhã - mas ela não via, não enxergava o brilho que sempre era ofuscado pela sombra que colocara diante da vida. No passeio das mãos, brancas e bem cuidadas, pode identificar algumas garrafas, animou-se. Apressadamente correu em direção a sua bebida - procurando pelos vestígios da noite anterior. Um copo espatifou-se.

- Inferno

Ainda de olhos fechados insistia em procurar... Nem ela mesma sabia qual era o objeto da busca - mas não desistia. Com uma velocidade quase que animalesca, corria com os dedos tentando agarrar o invisível. Precisava preencher o que estava seco. A secura a consumia internamente, a destruía como fogo em palha, como pedra em vidro fino. Pedra jogada em cristal puro. Por não encontrar o que buscava agarrou o que estava ao seu alcance. Abriu uma garrafa de whisky vagabundo já pela metade e colocou em seus lábios. Apesar de não ver, ela sentia. Passou a mão pelo frasco como quem busca por um pensamento que fugiu . Fechou os punhos e começou a movimentar sua mão como se masturbasse o litro de grossa espessura. Com o movimento, a princípio suave - porém rápido - o líquido começava a escorrer facilitando o vai-e-vem obsceno.

Pode sentir que seu seio estava enrijecido, mas não viu. Não olhou. Sentiu. Os mamilos ficavam agora bem delineados em uma belíssima camisola vermelha. Corpo torneado, corpo de mulher feita. Entre um movimento e outro ousava tocar a garrafa com seus lábios. Lambia com tesão o whisky da noite passada. Passava os lábios, consumia o álcool que lhe deixava viva.

Sem pudores e livre de qualquer amarra, desceu sua mão vagarosamente e quando se deu conta, encontrava com seu próprio prazer. Num ritmo inconstante, intercalava longos goles da bebida com uma massagem excitante. Gemeu. Livrou-se de qualquer pensamento e foi assumidamente egoísta: naquele momento era ela que estava em cena.

O sol já havia caminhado do lado de fora, levando a luz para onde antes não era iluminado. Ela sentia. Agora suas coxas estavam quentes. Num gesto não planejado, desceu com a garrafa. Hesitou em um primeiro momento, mas acabou cedendo a sua verdadeira vontade. Penetrava agora cada centímetro da garrafa , ainda aberta, em si mesma. Gemeu. A dor e o prazer se confundiam. Estava ardendo. Queimava por dentro.

Enfiava cada vez mais fundo, e sentia-se rasgada por dentro. Sentiu algo quente escorrer, mas não se preocupou. Deixou escorrer, deixou correr, porque algumas coisas precisam ser expurgadas, porque precisava ser liberta - então se exorcizava.

A garrafa já estava pela metade e o prazer era quase pleno. Mordia a boca, tirou sangue dos lábios. Afundava os dentes em si mesma tentando engolir o que era. Líquido.

Quando sentiu que havia chegado no seu limite, parou repentinamente. O lençol manchado em tom de papel antigo trazia muito da cor do seu esmalte - porém, menos vibrante e, agora, menos vivo. Levou as duas mãos até seu rosto, aproximou-as dos lábios e as lambeu canibalmente.

Havia chego no limite, mas se viu insatisfeita. O prazer poderia ser maior, o tesão poderia aumentar - e não relutou. Passou as mãos agora molhadas com whisky e seu sangue vermelho e grosso pela penteadeira. Encontrou um maço de cigarros já no final - era o último. Sentiu uma alegria imensa, era o último. De olhos fechados riscou o fósforo e o acendeu. Deu um tragada profunda e segurou a fumaça o máximo que pode. Fumava com uma mão e se tocava com a outra, numa perfeita sincronia, num ritmo invejável.

Quando viu que o cigarro se aproximava do fim o lançou para longe. Apesar de estar acabado, fumado até o filtro, até o fim, ainda acreditava que a pertencia. Então jogou longe, mas ao alcance das mãos.

Se aproximava cada vez mais do prazer que buscava, da recompensa perdida que acreditava merecer. Enfiava, mais e mais, a garrafa em seu interior. Pode ouvir a pele ceder e o sangue escorrer entre as coxas. Encontrava o que havia perdido, encontrava com o que desde o princípio havia procurado. E num ritmo agora, inconstante e tortuoso, se tocava e tinha prazer em ouvir e sentir sua pele rachando.

O sol não se movimentou novamente, mas a luz havia aumentado. Um calor descomunal tomava conta de seu corpo, de sua alma e de seu quarto. Ouvia o estalar de madeira velha, sentia o cheiro da fumaça - densa, preta e carregada. E enfiando o garrafa de whisky até a máxima profundidade de seu corpo, suspirou.

- Encontrei.




segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Não mate uma Elenita

Escrito ao som de RobynDancing on my own

Senti que deveria escrever este texto, que deveria compartilhar o que penso e o que sinto. Não sei até que ponto vai ser significante, vai importar a pessoa a qual o dirijo, mas sinto que o devo escrever. E se sinto, é vivo. Se é vivo, me toca, e se me toca, faço. Sem arrependimentos.

Elenita, Lena, você não me conhece, mas eu muito sei sobre você. E sim, daquele programa, daquele bendito e maldito reality que te trouxe a tona. Caos. Ainda se pergunta se deveria ter entrado e jogado de coração aberto, ser julgada pelos olhos e comentários duros de todo um país. Não se arrependa, Lena. Não mais.

Lá conhecemos uma moça, uma jovem, com uma personalidade extremamente forte. Uma mulher de…peixes? E essa força de leão? E a explosão de touro que não deixa pedra sobre pedra? E a delicadeza de câncer? Elenita dos astros, Lena de muitos signos. Ah, se você soubesse o quanto ensinou ao Brasil.

Uma Mulher! Uma doutora? Num programa daquele? E daí? Pessoas já lançavam as mais afiadas e maldosas palavras, criticando sem ao menos chegar perto de conhecer. É sempre mais fácil apontar o dedo pro outro, incrível. Pra tudo isso dou o nome de recalque. Re-cal-que. Assim, separado sílaba por sílaba. Afinal, sempre existiu quem brilhe, e sempre vai existir que faz de tudo para apagar a luz do outro. Uma pena.

Guerreira, batalhadora, forte. Uma mulher que se mostrou autêntica, na mais pura definição do vocábulo. Verdadeira. Brigou pelo o que acreditava, defendeu quem merecia e saiu por cima, provando que se pode vencer (e muito), sem necessariamente alcançar a medalha de ouro. Às vezes o bronze dá mais sentido a vida, o ouro pode gerar cobiça,

E o título do texto? O que tem a ver com tudo isso? Tudo. Não mate uma Elenita. Não cometa este suicídio figurado. A Lena que vimos, ouvimos e nos identificamos também é muito importante. A Lena que deixou sua marca, a Lena rabugenta, Lena brava. Por que não? Os defeitos também nos constroem. A Lena amorosa, a Lena amiga, companheira, sincera – até demais. Uma alma doce em um corpo de mulher feita.

Não mate esta Elenita, ela foi importante. Tanta coisa boa sendo perdida neste mundo... Não apague o que já foi um dia. Seja Lena, seja Elenita, mas continue sendo esta pessoa tão maravilhosa e tão inspiradora.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

1000 divãs

Esqueci o tom.
Perdi o jeito.
Não sei mais jogar.

take me

Aquela sensação de parar no tempo, de sentir que as pernas não podem dar se quer um passo em direção ao novo. Aquela sensação de impotência, de fraqueza, de desânimo.

Seguir para onde? Apenas caminhar em busca do desconhecido? Nunca soube andar sem um bom mapa no bolso... fiquei mal acostumado. Seguir em direção ao que o coração mandar? Ele tem acertado tão pouco ultimamente.

Mas eu sei, eu sinto que é preciso andar. Impossível é sair do mesmo lugar sem dar o primeiro passo. É físico, é vivo.

Alguém quer levar minha bagagem? Quem sabe assim eu tome a iniciativa e me faça partir. Aqui não posso mais ficar.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

uma boa noite

Hoje eu vou dormir feliz. Dormir feliz por ter o que tenho, por ser o que sou. Por passar por grandes experiências nesta vida, por aprender com o sofrimento e alegria do outro.

Hoje eu vou dormir feliz. Feliz porque a cada dia percebo que existem pessoas boas, que o egoísmo pode ser substituído pela caridade e que isso tem acontecido com grande frequência.

Hoje eu vou dormir feliz.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nascimento de Clara. Doce Clara.

Hoje, finalmente, nasceu Clara. Depois de alguns meses de sofrimento, horas e horas de muito trabalho e um bom tanto de inspiração, Clara veio à luz.

Apesar de ter na cabeça , e marcado em minha alma, toda a história de Clara, como foi difícil transcrever para o papel.

A cada linha surgia a vontade súbita de chorar. A cada parágrafo, via a certeza de que Clara amadureceu, cresceu, e ganhou e muito com as experiências que teve.

Em breve, você também vai poder conhecer a Clara. A Doce Clara, e se apaixonar por essa menina que só buscava por uma coisa: um amor sincero e verdadeiro.


sábado, 21 de maio de 2011

rachaduras invisíveis

Crack, fez a imagem. Não só o que ela representava, mas tudo o que nela já esteve. Ao ouvir o barulho, se olham espantados, sabem que não há que ser feito. Por mais que se tente ignorar, a marca vai ficar, vai ficar e vai fazer seu papel: marcar. Deixar o vestígio da quebra.

Cacos.
Caos.
Crack.

Me dê suas mãos, vamos para longe daqui. Vamos em busca do que nos regenere, do que nos torne o que já fomos. Rápido! Não olhe para trás, pode ser que vire pedra e não quero ter que carregá-lo, tão pesado. Tome minha mão, carregue-me em sua inspiração, me leve para longe, mas para tão longe que eu não me lembre como voltar, que eu não sinta falta.

Crack.

Meu rosto! Seu rosto! Estou corado, vermelho vida, vermelho sangue. Vermelho que corre por meu rosto, não posso limpar. Deixo escorrer... não, não tente. Vai ser inútil, deixe escorrer. Escape enquanto há tempo, enquanto esta inteiro, enquanto não se dividiu e deixou pedaços por aí. Me deixe onde estou, vá. Não posso, eu sinto que não devo. Mas vá! Vá para longe! É perigoso, não percebe? Não posso lhe dar ouvidos, preciso ouvir o que sinto, e o que sinto diz: fique.

Crack.

Não tem mais volta.

sábado, 7 de maio de 2011

Ah, se.

Se alguém encontrar meus pedaços por aí, por favor, me avise.

Me avise para que eu possa saber o que fazer com os cacos, me avise para saber se os junto, parte por parte, até formar o todo de algo que algum dia fui, ou para pegá-los com as duas mãos e jogá-los pelo ar, "vá e não volte."

Se alguém encontrar meus vestígios pela rua, por favor, me conte.

Me conte para que eu pelo menos tenha consciência de que ainda existe algo, ainda que pequeno. De que existe um pouco de mim, ou do que um dia eu fui, por caminhos que já passei.

Se alguém encontrar com partes da minha inconsciência, por favor, me chame.

Me chame para que eu possa voltar, seja lá de onde estiver, e recuperar o que foi perdido. Me chame, mas grite em alto e bom tom, que está frente a frente com o que já não existe.

Se alguém encontrar
Ah, ninguém vai encontrar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

mensagem do dia

"Agora, um recadinho para vocês:

Difícil e necessário: sair da zona de conforto e ir em busca do que realmente se quer. Não adianta ficar esperando para que o destino coloque o que você tanto busca em seu caminho. O destino é amorfo e intocável. Foi criado pelo e para os homens com um único objetivo: jogar nele a culpa de nossas frustrações e impossibilidades. Claro, ter a quem culpar sempre deixa as coisas muito mais fáceis.

Saia dessa agora mesmo. Tire as lentes míopes e comece a ver o mundo com outros olhos. Enxergue nas dificuldades uma oportunidade e encare todos os desafios com garra e determinação. Não se deixe abater pelas frustrações e mágoas de uma conquista não alcançada: se ainda não chegou, é porque não era o momento. O tempo é sábio, é o Deus que coloca em suas mãos aquilo que você pode e deve alcançar.

Mais uma semana está começando. Vamos colocar um sorriso no rosto e sair em busca dos nossos sonhos? Basta acreditar e eles podem acontecer. Acredite, menina.

E eu vou ficando por aqui. Até amanhã"
CORTA

Valeu pessoal. Valeu.

- Mais um dia se foi, mais um dia.

domingo, 17 de abril de 2011

Paixão Segundo HG

Eu não te conheço.
Você não me conhece.
Mas eu sinto que deveríamos.

Eu sinto.

Sem medo dos riscos
ou de pequenos perigos
que possam aparecer pelo caminho.
Isso, segure minha mão.

Eu sinto.

Já perdemos muito tempo,
já se passaram meses, anos
e nos encontramos aqui.
Ainda desconhecidos.

Eu sinto.

Me dê o seu belo sorriso,
me entregue seus lábios
me diga Clarices.
Segure minha mão

Eu sinto


Vamos juntos.
Rumo ao desconhecido,
vamos juntos?

Eu sinto.

sábado, 16 de abril de 2011

Receba

Meu amor,

Quanto tempo, como vai você? Hoje me peguei relembrando alguns momentos que passamos juntos, tempos atrás. Não que eu ainda pense em você, mas hoje aconteceu o inevitável: me encontrei com minhas lembranças, no mais escuro beco da minha alma, na mais profunda sala das sensações passadas. Encontrei um desenho , acredita? Encontrei um belo desenho que você havia feito em alguma ocasião. Árvores em todas as cores quentes, muitas. Era assim como eu me sentia naquele exato momento,multi-colorida. Como você sabia? Do vermelho ao amarelo cítrico, do laranja ao verde-limão, multi-colorida.

Já faz alguns anos que não nos falamos, talvez até tenha se casado, tenha filhos, uma casa linda com um jardim imenso e uma esposa dedicada. Será que ela sabe lidar com as suas manias? Como me irritava quando ficava calado diante algumas situações. Eu acabava tomando todas as decisões, eu é quem conduzia nossa dança - neste quesito seu cavalheirismo deixou a desejar. Mas já passou, acredito que tenha mudado. Eu acredito.

Você ainda fuma? Um romance alto-destruitivo o nosso. Dividíamos maços e maços de cigarros com filtro vermelho, se recorda? Eu ainda carrego as marcas desse vício - respiro com dificuldade. Era tão bom, nossa era tão bom. Final da tarde naquele grande parque, olhando para lua, sentindo o vento frio típico na nossa cidade, abraçados e unidos pelo vermelho, até o filtro. Unidos como a saliva e filtro. Como lábios e filtro. Como um duplo-filtro que ao mesmo tempo que purifica, mata.

Estou rindo. Não, não de você. Estou rindo pelas coisas que vivemos, relembrando, vivendo novamente. Éramos tão jovens, tão imaturos. A ânsia por viver o desconhecido, por explorar todas os caminhos que a vida oferecia, por se jogar sem ter que manter algum compromisso, acho que foi isso que acabou com a gente. Eu tentei aproveitar até a última tragada, na verdade segurei a fumaça por mais tempo até que deveria. Já você, vi que soltou rápido, acredito que depois nos afastamos até parou de fumar. Eu me viciei, me viciei. E carrego marcas até hoje. Já disse que sinto dores no peito? Dizem que é no pulmão, eu já não tenho tanta certeza.

Já não estou rindo. O que poderia ter acontecido se tivéssemos seguidos juntos? Hoje tenho duas filhas, lindas aliás. Clara e Maria, lembrei-me de você quando a primeira nasceu. Era esse o nome que daríamos a nossa primogênita. Mas não sou casada, não mais. Nunca o amei como amei você, sabia? Aquela sensação de querer estar junto,pra todo o sempre. Na verdade não sei se deveria estar lhe escrevendo agora, desenterrando essa história. Não sei qual vai ser sua reação ao ler isso. É que eu encontrei um desenho que me representava: multi-colorida.

Mas me conte de você, como você está? A última notícia que tive sua foi há tempos, meu Deus, eu tinha 30 anos. Era uma menina ainda. Uma amiga nossa em comum disse ter encontrado você no aeroporto de São Paulo." Olhos verdes, aquele mesmo cabelo bagunçado. Um sorriso lindo, e muito bem de vida." Ela disse que o tempo não passou para você, que está inclusive mais bonito desde quando terminamos. Fiquei curiosa. Perguntei sobre alguma aliança, ela não soube responder. Disse que não trocaram muitas palavras. Talvez estivesse indo fechar algum grande negócio, ou encontrar com sua bela senhora esposa em uma outra cidade. Você carregava uma pasta cheia de papéis "São projetos. Ele os carrega para cima e para baixo. Desde aquela época. Pelo jeito não mudou quanto a isso." disse nervosamente a nossa amiga - que ficou espantada com tantas lembranças que ainda guardava em minha memória.

Está no coração, por isso não esqueço. Não ousaria guardar qualquer lembrança sua que não fosse lá. Que saudade, meu amor. Que saudade. Será que você ainda se lembra de mim?Eu sempre tenho minhas dúvidas quanto a isso. Não, eu não estou cobrando, longe de mim. Só ficaria feliz se lembrasse quem sou, ou quem fui algum dia em sua vida.

Já foram três cigarros até aqui. Me viciei. Já disse que me viciei? E quando a gente vicia em algo, quando se cria dependência, quando as raízes se fixam firmes no chão é complicado conseguir êxito em alguma mudança. Me acostumo com a desordem e a tomo como referencial de organização. Estou presa a essa bagunça, em pleno labirinto sem saber onde está a saída, ou como resolver o impasse. Não que eu ligue, mas tenho consciência disso. Estou perdida num caminho que pensei ter criado junto a você, me perdi. Não há mapa, nem setas, nem placas. Caminho sem rumo. Estou perdida em mim, estou perdida em você. Sabe onde me encontrar? Não, não moro mais alí. Não me habito, não sou dona de mim. Sabe como me encontrar? Eu saberia, se não o tivesse conhecido. Eu te amo, não me deixe perdida e , o pior, sem tê-lo junto a mim. Meu endereço está na parte de trás, meu eu físico vai ser facilmente encontrável. Em carne e osso, vai poder chegar até mim. Espero que não apenas em osso. Caso se perca, mando um desenho para que possa me encontrar. Esqueça o endereço e siga as cores, não vai ser difícil. Hoje sou multi-colorida, só que ao contrário.










Até breve.
Com carinho,

K.L

quinta-feira, 14 de abril de 2011

.parar

tenho pensado tanto.
preciso parar um pouco

( de pensar, de criar, de imaginar)

parar por parar.
ponto. parar. ponto.

acabar.

Sim.Sol

- Oi?
- Olá.
- Tudo bem, menino?
- Tudo. Acho que sim. E com a senhora?
- Estou bem. E com fome.
- Já é tarde, não?
- Já. Posso me sentar com você?
- Claro que sim, fique a vontade.
- Eu já vi você aqui outras vezes, menino. Vem sempre sozinho.
- Pois é. Eu sou sozinho mesmo, acostuma.
- Eu sei bem que acostuma. Também sou sozinha.
- Hum.
- Quer um suco?
- Não, senhora, o meu já chega.
- Tudo bem. Não se sente mal por estar sempre assim?
- Assim?
- Assim?
- Sabe como, menino.
- Não me importo. Não mais. Faz tempo que as coisas estão assim.
- As coisas ou você está assim?
- Hum.
- Sabe a resposta.
- Senhora... sua comida... vai esfriar.
- Meu bife! Ai que cabeça. Gosto dele bem quentinho.
- Então dê uma boa garfada e coma.
-...hm..hm
-....
- Você não me respondeu, menino.
- O que?
- Sou velha, mas não sou tola!
- A senhora é difcícil.
- E então?
- As coisas estão assim. Eu estou assim. Tudo está assim. Dessa forma.
- Abstrato.
- Completamente sem forma.
- Já tentou organizar?
- Já.
- E?
- Perca de tempo.
- Sempre meio vazio com você.
- A senhora me julga como se me conhecesse.
- Sei bem quem é.
- Que mania algumas pessoas tem de dizer que me conhece. Prepotentes.
- Você é tão óbvio, menino.
- Obrigado, senhora.
- Imagina
- Acho que liberou uma mesa alí. Se quiser...
- Não, estou bem aqui.
- Ah, meu suco. Obrigado.
- Menino, você anda tão triste, menino.
- Senhora, o que quer saber?
- Porque.
- Não sei dizer. As coisas são, se não são ficam. E se ficam, eu também fico.
- Não deveria.
- Eu sei.
- Então porque?
- Não sei.
- Então?
- Falta alguma coisa. Parece que nada se encaixa.
- Defina.
- Parece que veio faltando uma peça.
- Sim
- Ou trocaram, por pura maldade.
- Fatalismos
- Eu acredito
- Eu também.
- E o que eu devo fazer, senhora?
- O que fazer?
- Ajude-me,por favor.
- Menino, preciso ir. Me esperam.
- Tudo bem. Adeus.
- Estou sempre com você.
- Como?
- Vai saber o que fazer.
- Ai senhora, sem metáforas.
- Sou sempre literal.
- E eu também. Por isso sinto tanto.
- Mal chega, e você já sente.
- Quando chega, já senti demais
- Evite isso, menino. Pra longe disso, menino.
- Me conhece bem, senhora.
-...
- Senhora deixou cair sua...senhora?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

go away

Hoje senti o que não tem nome. O desconhecido, o não tocável. Se não toco, não existe. É assim? Não. Hoje senti-me estranho ao escutar depois de meses aquela música. Aquela canção que falava sobre um telefone não parava de tocar, aquele telefone que ninguém atendia porque estava k-kinda busy.

K-kinda weird. Não tem nada a ver com amor, ou tem de certa forma. Mas não o amor que os homens estão acostumados a lidar, aquele amor carnal, físico, sexual. Era algo de espírito. De espíritos que se encontraram em meio a tantos. By the way, uma fase incrível e turbulenta. Talvez incrível por ser turbulenta, ou turbulenta por ser incrível. Mas uma época que jamais vai me sair da minha memória. Aquela irresponsabilidade gostosa de quem estava começando a descobrir caminhos por outra hora nunca percorridos. Encontrando por esse lugar, outros com as mesmas vontades, curiosidades. Outros sonhadores que não viam no limite a impossibilidade de se aventurar. Please, baby, stop calling. I'm having fun with my crew. Como em poucos meses nossa vida pode dar um salto quase que em 180 graus. Já não existe aquela motivação, nem aquela vontade de descobrir o novo - será que descobrimos tudo o que deveríamos? será que abusamos do destino e fomos além? Fomos tão longe que, já depois de tanto tempo, não conseguiremos voltar? - não existe mais.
Ramos, ramificações, bifurcações, curvas sinuosas, estrada de madeira velha, estrada acidentada, caminho incerto, caminho mais que certo. Tomou-se a direção e seguiu-se. Sem olhar pra trás. Sem sequer olhar pra trás. Antes, chamaria sem pestanejar : egoístas! Mas já não há o que ser feito. Quando a coisa vai, é porque tem que ir. Se seguramos, ela escapa por entre nossos dedos. E aí vai ser pior. Vai ser pior porque vai ficar os vestígios da coisa ( entre os dedos, entre as unhas) e jamais vamos conseguir nos libertar.

Vai. Vão.
Eu fico.

Por ser teimoso.
Por ser orgulhoso.
Por ter perdido aquilo que chamam de fé.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Santa Sina

Os sinos da igreja batiam. Já era próximo das 10 horas e Madame M se arrumava em seu aposento. Abriu seu guarda-roupas e escolheu seu vestido mais longo, mais negro, mais sedoso. Apesar de ser usado só em ocasiões como a que ocorreria no dia, tinha seu charme e toda a elegância da dona. Era bonito, trazia algumas pedras azuis e alguns brilhantes que ajudavam a costurar o grande decote. Como é bonito, nunca vi em lugar algum algo tão sublime. Se existe perfeição, ela foi toda costurada junto a minha mais valiosa peça. Depois de vestida, foi até seu grande armário, no qual se encontravam exemplares únicos de sapatos de grandes estilistas europeus com os quais, vez ou outra, toma um delicioso chá às 5 – como mandava a tradição. Fechou os olhos e passou as mãos, sentido a textura de cada um. Estava decidida que, naquele dia, iria se deixar levar pelas sensações, pelo o que sentia. Não... não... não... este é o que vou usar. Abriu os olhos e , antes mesmo de enxergar o que tocava, retirou-o do armário com toda a intimidade de quem conhece seus pertences. Sabia que seria você. Escolheu um preto, que quase se confundia com o azul marinho, dono de um salto enorme. Dirigiu-se a um antigo baú e dele retirou um lindo colar no mesmo tom das pedras que estavam no vestido. Encarou um espelho que ficava em frente a sua cama e suspirou. Só mais este detalhe e... pronto. Passava a mão por cada pedra, sentindo-se dona do mundo e muito poderosa.

Madame M olhava insistentemente seu reflexo como se dele quisesse retirar alguma resposta. Por mais que tentasse passar a imagem de uma mulher segura e centrada, estava nervosa.

- Madame, todos..

- Quer me matar do coração, Alice? Desaprendeu a bater na porta?

- Perdão senhora, é que..

- Senhora? Tenho cara de senhora? Senhora é a sua mãe, que certamente já passou dos 50.

- Senhorita, perdão, mas é que...

- Sua inconveniente. O que quer aqui, diga logo antes que eu perca minha paciência.

- Madame, todos já estão pontos e aguardam por você.

- O carro que pedi já está estacionado no lugar de costume?

- Certamente que está.

- E as pestes?

- Seus filhos?

- Não me faça perguntas com perguntas. Como você me irrita, Alice.

- Perdão. Mateus e Marcos já estão no carro e aguardam sua presença.

- Já vou. E desapareça daqui.

- Até breve, Madame.

A governanta encurvou-se e saiu rapidamente do quarto. Madame M procurava sua bolsa. Odeio funerais, odeio. Sim, era minha mãe, mas qual o problema? Todos tem que partir algum dia, todos. Essas convenções sociais que ditam como se sentir em determinadas situações.. não, eu não estou triste, estou preocupada. Preocupada porque era ela quem cuidava dessa casa, quem colocava ordem nesses serviçais insolentes, quem olhava pelos meus filhos e observava a cozinha todos os dias, para que não envenenassem nosso alimento.. ah, o veneno. Desse tipo de gente pode-se esperar de tudo. E quem disse que essa complicação da saúde de mamãe não foi provocada por algum empregado da casa? Preciso me cuidar, era tão bom ter alguém para tomar conta disso tudo, agora estou só. Só não, estou com as pestes, Alice e os criados.

Madame M saiu do quarto e foi em direção as escadas. Era alta e tinha muitos degraus. De lá, podia observar toda sala e dez de seus empregados, dispostos 5 de cada lado da escadaria imensa, cabisbaixos. Desceu arrastando o longo vestido sem olhar para os lados.

- Estarei de volta para o almoço.

Entrou no carro preto e seguiu em direção a igreja. Os filhos de Madame M pareciam estar bem abatidos com tudo o que ocorrera. Olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

- Mamãe, ela não volta nunca mais?

- Não – Foi seca e objetiva na resposta.

- Mamãe, ela não vai mais cuidar da gente?

- Não.

- Nem do jardim?

- Não.

- Mas as plantas vão morrer e..

- Tudo nessa vida morre, meu filho. Você já está bem grandinho e precisa entender isso. Seja homem, já tem 10 anos.

- Temos 9 mamãe.

- Isso, sejam homens – disse enquanto retocava o batom forte vermelho-sangue. Continuou – Mas não homem como o pai de vocês, aquele cretino. Pelo menos me deixou uma generosa herança.

- O que é herança, mamãe?

- Coisa de gente adulta, não lhe interessa.

Mateus e Marcos sofriam com a perda da avó, viam nela a mãe que nunca tiveram. Apesar de estarem acostumados com a secura da mãe, cada palavra mal dita machucava os meninos como um tapa na cara em um dia frio.

Já vamos chegar e isso tudo vai acabar. Eu não suporto a ideia de vê-la gélida e estática dentro de um caixão, é muito para eu digerir. Esse esmalte... preciso demitir o maldito que o comprou. Ah minha mãe, de que adiantou tanta bondade? De que adiantou essa vidinha medíocre passando tardes e mais tardes junto àquelas plantas fétidas ... preciso dar um jeito de acabar com aquela estufa nojenta. Todo esse amor pelos meus filhos, coisa patética, eles são meus, só meus agora. Eles nunca precisaram da sua atenção, mas eu os deixava com você, estava ficando velha e precisava se distrair. Tudo bem, confesso que gostava de ficar livre dessa obrigação, as pestes não me deixariam em paz. Onde já se viu criar intimidade com serviçais? Trocar intimidades com subalternos, expor-se a Alice como se esta fosse capaz de compreender o que se passa em nosso mundo? Coisa absurda... é, definitivamente, a insanidade havia chego. Minha pobre mãe. Vou sentir saudades, ah se vou. Vai ser tão estranho aquela mansão sem você.. agora teremos mais um quarto de visitas, ou de empregados.. empregados em cima? Jamais. Um quarto para os pequenos se divertirem, talvez até usem suas jóias mamãe, seus vestidos, usem sua maquiagem caríssima francesa e brinquem de teatro, imitando aos príncipes e princesas de nossa terra. Que brinquem de teatro, mas que sejam diplomatas. Ou médicos. Nunca se sabe o dia de amanhã... e se minha fortuna extinguir-se? Não posso correr este risco. Risco? Que risco? O depois, os distante, o que ainda está por vir me dá ânsia. O incerto, o imprevisto, o não-reto me causam uma enorme enxaqueca. Pro diabo o que vão ser. Na melhor das hipóteses caso-me novamente com outro velho milionário asqueroso, faço-lhe um chá de coroa-de-cristo e já cumpro o cerimonial de apresentá-lo a mamãe. Hum, afazeres domésticos, nunca soube o que é isso e não pretendo saber. Você cuidava de tudo, era tudo tão organizado, tudo tão perfeito. E agora? Egoísta, deixou-me aqui com tanta responsabilidade, com tantas coisas a serem feitas. Vida injusta, Deus de merda, porque não levou Alice, ou nosso jardineiro? Tanta gente que não merecia estar aqui; gentinha, gente pequena, animais. E quanto a mim? Como fico? Vida injusta, porque? Será que posso achar outrem para fazer o que mamãe fazia? Bem que poderiam vender mães por aí, mas teriam que ser tão eficientes quanto a minha. Dar conta de uma mansão daquelas, daquele tanto de subordinados e ainda sair com meus filhos, olhar as plantas. E agora, como eu fico? Pisaram no meu calo, agora vão sentir o poder do meu salto.

O velório havia chego ao fim. Madame M cumprimentou aos amigos que vieram das mais distantes cidades para dar um último adeus a tão bela senhora. Entraram no carro e voltaram para casa sem nem aguardar o sepultamento. Parem de chorar pestes, já estaremos em casa. O carro estacionou e todos desceram. Entrou pela sala com um ar soberbo e assustador. Encarou aos empregados.

- Todos para seus aposentos – ordenou sem pestanejar.

Viraram as costas e, sem fazer qualquer questionamento, saíram.

- Você não, Alice. Você fica.

Sem entender a moça voltou.

- Hoje quero que todos almocem juntos. Minha santa mãe gostava muito de vocês e acredito que ficaria feliz em ver isso , seja onde estiver. Teremos uma mesa farta ... quando estiver pronto, avise aos empregados. E para cozinha, Alice.

- Sim, senhora... Senhora?

- O que foi, Alice?

- Achei tão bonita sua atitude – emocionou-se.

- Faça uma comida deliciosa.

- Certamente.

- Alice, melhor, vou acompanhá-la, quero ver como é que prepara nossos pratos.

- Será um prazer senhora.

As duas dirigiram-se a cozinha. Passado algum tempo Madame M, ainda com seu vestido negro, balançou um sino chamando a todos para almoçar. Eis surgiram, ainda meio sem entender o que ocorria, e sentaram-se a mesa que já estava posta. A luz baixa que a iluminava fazia refletir o brilho das louças de prata e dava brilho às taças de cristal. A vibração do sino podia ser sentida como uma onda sísmica que atravessava todos os objetos. Ouviu-se um sussurro. Sentada entre seus dois filhos, Madame M ergueu elegantemente uma linda taça, quase um cálice sagrado.

- Tomai e comei. Mamãe vai gostar. Mamãe vai adorar.

Todos comiam sem modos algum. Nunca tinham visto tanta comida em um almoço. Madame M servia, sorrindo, cada um de seus filhos com garfadas generosas de porco assado. Observava a situação com uma falsa doçura. Malditos.

Olhou para Alice e acenou com a mão enquanto comia uma folha de alface.

Já Alice ensaiava algumas lágrimas entre um pedaço de porco e um gole de vinho enquanto suspirava.

- Eis que estou convosco até o fim.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um homem comum, de uma vida comum, de uma alma comum.

Eu alí
e se?

Eu aqui
e se?

Vida Imperativa

Acorde! Não deixe um minuto para trás. Tempo é ouro em dias como o de hoje, é jóia de monarquia extinta, é peça única de museu egípcio, é raridade rara. Desperte! A vida passa diante dos seus olhos e há de se escolher entre enxergá-la ou dar de ombros, experimentá-la ou deixá-la ser, sem o intento, compromisso ou formalidades que nos exigem. Levanta! Que já te esperam ansiosos, que já precisam, já preparam, já encontraram e já perderam o que um dia você buscou. Lutou tanto por um pedaço mínimo de alegria que, quando de fato a conquistou, não lhe deu o seu devido valor. Alegria também é tempo e, se é tempo, passa. Seque as mãos, pois se escorregadias estiverem desista de qualquer conquista.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Metódica

- Eu te amo.

Que espécie de ser humano solta palavras assim, dessa maneira. Eu não sabia qual era sua real intenção ao dizer isso e muito menos como deveria agir. É tão profundo, tão sublime, tão romântico. Não nego que estamos a algum tempo juntas, mas tempo suficiente para surgir o amor? E o que é o amor? Defina :.............. Qualquer tentativa de explicá-lo, seja com a palavra, seja com a pintura, seja com a música, seja com o filme, seja com páginas e mais páginas de um bom livro, são inválidas, são tortas, são incertas, são falsas, são piegas, são estranhas, são não-amor. Amor é pra ser sentido, não para entender. Entender o amor é tarefa para mais de algumas vidas, para mais de alguns pequenos instantes que passamos aqui. O aqui é passageiro, é o hoje, é o momento, é o tempo que passa a sua frente sem nenhuma timidez. Maldito tempo que inventamos e que tanto nos aborrece – delimitar é limitar e se limita não me agrada. Não me agrada porque a vida, assim como o amor, é para ser vivido sem convenções criadas pelo homem, sem a interferência imperfeita do toque de suas sujas mãos. Sujo, isso o amor não é. E o que não é o amor? Defina:............ Já não sei o que pensar, divago livremente. Antes, ainda tinha um coração puro e leve , mas que agora é duro e pesado pelas palavras não esperadas que recebeu. Sinto-o bater em ritmo descompassado, estamos nos estranhando. Tire esse fio de cabelo da boca, isso me dá agonia. Isso. Desculpe-me, não é por ser você, sou cheia de manias. Me irrito facilmente e posso ferir. Desculpe-me se te vejo com olhos sedentos, se um eu canibal assume meu corpo quanto toco sua pele. É a química - a física e a literatura, convivendo juntas em um mesmo ambiente, girando pela sala como se dominassem o ritmo e se conhecessem a dança intimamente. Três, dois, um. Sabia que ia fazer isso, quando está nervosa sempre da uma leve mordida na parte inferior do lábio combinando a agonia de uma espera com a ânsia por alguma resposta – o mesmo, de várias maneiras. Posso ser assim, repetitiva. Posso ser assim. Já disse como posso ser? E o amor, onde fica? Onde entra? E desde quando precisa de permissão para invadir? Você me deu seu peito e eu entrei. Rasguei camada por camada, ultrapassei as vísceras e tomei a liberdade de tirar a sua – liberdade. Não se comanda o que se sente, assim como não se controla o que se pensa. Por favor me desculpe, por favor. Eu não quis que fosse assim, vivemos na mesma frequência, mas em intensidades diferentes. Me entende? A aula já vai começar, alguém vai entrar por aquela porta e por fim a tudo isso. E quando acabar vamos sair, nos abraçar e vai estar tudo bem. Te dou um beijo daqueles que faz você se arrepiar toda, que faz você implorar por mais. Nenhum sinal de vida. Aliás, dois sinais de vida – pulsantes e latentes – um de frente para o outro. Jamais poderei traduzir o que trago no meu mais insano interior, no meu mais obscuro eu. Não nasci incumbida e, apesar de trazer curiosidades, não quis fazer a faxina: morro de medo de baratas. Abro as janelas e viajo livremente. Fechos os olhos em busca dos seus tentando encontrar o que tanto procuro. Saltam para fora, azuis, escorrem pelo o chão. Derretem, janelas se. Arrebentam portas todas. Vidros, quebram se, mas não existem cacos. Os cacos estão em nós e marcam cada milímetro da nossa alma. Vivo o surreal, vivo o inexplicável e sinto o que não existe. Você é tão bonita, já disse isso? Gosto de como sorri, gosto de como se irrita com a mais fraca luminosidade – tem os olhos sensíveis. Alma sensível? Se são janelas da alma, faz sentido. O toque é revelador e traz em a grande experiência humana que é : sentir. Um grande calor atravessa meu corpo físico dos pés a cabeça. Se não estivéssemos aqui te agarraria com toda a certeza de que nossa intimidade não existe a toa. Ia ser recíproco. Eu quero te beijar. Olhar o contorno dos seus lábios me faz ter os mais devassos delírios, lembro-me de onde estiveram ontem e onde os imagino hoje. Imaginava? Porque você fez isso? Se quisesse brigar seria mais fácil se fosse direta a algum ponto que eu não pudesse contestar, mas você me ama. E isso me assusta. Quero te responder, mas me desculpe, não me sinto preparada e não sei o que dizer. O que cativo por você está distante de qualquer significado já colocado pelo homem em resumos, resenhas, artigos, livros, coletâneas ou dicionários. E isso me perturba. Quero te dizer, mas dizer o que? Por favor não roa as unhas. Não, não abaixe os olhos como quem aceita uma derrota. A ansiedade consome cada polegada do seu coração, posso sentir e sinto-me: culpada. Se eu pudesse por fim a sua agonia... Eu gosto de me envolver, eu gosto de você, mas NÃO! Deixe-me pegar um lenço, espere,...............pronto........agora.....está...limpo. Emoção materializada. Não me obrigo a me entender, as vezes a melhor resposta é justamente : não ter uma resposta. Não posso ser lida, existem muitos mistérios que guardo em mim por puro prazer. Gosto de sentir-me assim, única e dona do segredo do universo. Dona do segredo do meu universo. Se não posso entender o que sinto, não vou encarregá-la disso, seria injusto. Acredito que a complexidade, assim como as dificuldades, acabam sendo criadas por nós mesmos ,talvez na tentativa de ampliar o sentido da vida. Vida tem que ser difícil, tem que ser doída, tem que ser vivida. Pela dor chega-se a felicidade – ou passa-se bem próxima dela. É como se a dor fosse um passaporte para grandes descobertas. Desvendar a vida é como arrancar com uma faca bem afiada um grande pedaço da pele e , em seguida, colocar os dedos e mexer na ferida sem nenhum pudor. Aguarde meu amor, mais alguns minutos e alguém vem nos salvar. Vamos nos abraçar e vai ficar tudo bem. Te dou um beijo daqueles que vai fazer você se arrepiar toda e implorar por mais. Me entende?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sua água, senhora.

Dia cinzento e frio. A chuva caia fina pela cidade, já era possível observar algumas poças pelas calçadas. Lavava o sujo, limpava os vestígios de algo que algum dia já se amontoou. Era água, água dona de grande pureza e que sozinha poderia dar o brilho que o pó ofuscava. O ônibus parou no lugar onde ela costumava descer. Talvez fosse a última parada, o último suspiro antes de se encontrar com o desconhecido.

Dona de cabelos curtos a senhora trazia um olhar triste e lábios finos que quase formavam uma meia-lua. Em um primeiro momento, hesitou ao por os pés para fora do veículo, como se ao invés de água, fosse lava o que existisse sob seus pés. Eis que uma gota trazida pelo vento tocou-lhe o rosto. Sentiu o gelado escorrer por entre as maçãs chegando, lentamente, a boca. Fria, escorregadia e inesperada. O sabor da supressa, o gosto do inesperado que veio de longe e beijou-lhe, sem pudores. Numa falsa intimidade, numa abusiva intimidade tocou seu corpo com ousadia fazendo-a arrepiar. Era assim que então acontecia? Sem esperar, sem planejar, sem desejar?

Foi tão fácil que custou a acreditar, não sabia como reagir. Na ânsia de eternizar o momento se quer piscou, não mexia um músculo na tentativa de prolongar a sensação do novo, do extraordinário. Era como se tivesse tocado o mundo, sentido da dor mais agonizante a alegria mais plena. Estava viva, por mais que duvidasse, estava viva. A esperança havia chegado, e agora só dependia dela saber utilizar o que lhe foi cedido. A gota continuava estática, se equilibrando entre o começo e o fim da triste lua como se aguardasse uma decisão. Num gesto único de coragem a senhora resolveu reagir, passou a língua nos lábios e engoliu gota.

Em pleno caos sentia lentamente o líquido fazer a passagem por todo seu corpo até chegar ao seu estômago. Deitada em pleno caos abriu a boca sedenta e encheu-se de esperança antes de fechar os olhos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Terapia

É como se estivesse embriagado. Como se meu corpo já não respondesse às minhas ordens, ao meu sentido. O real confunde-se com a fantasia e traz o lúdico (o louco e o insano?) como a única realidade. Meus olhos fecham-se lentamente e piscam na tentativa de que eu os mantenha juntos por mais que alguns segundos. E é neste momento que me sinto a vontade para escrever, que me sinto livre e um pouco mais eu. Um eu que muito se revela apenas no cair da madrugada, junto aos carentes anônimos noturnos surge o real (ou pelo menos um retrato fiel do que seria o real) escritor apaixonado.

Sem vestígio de vergonha alguma, bato ensandecido o dedo nas teclas. O corpo sente a falta da nicotina, não há nada nas veias para acelerar e – num paradoxo único, meu – acalmar os ânimos para melhor dar forma as letras. Se tivesse um maço, aqui e agora, pararia por alguns minutos – sete – e puxaria o tabaco com a vontade de quem há dias não prova d’água.

Há muito no mundo para se escrito, há muito no homem para ser descoberto. Os primeiros obstáculos que se encontram, seja qual for a busca que se inicia, são a ansiedade, a angústia e o medo – de falhar? Entregar-se por inteiro, aventurar-se em direção ao desconhecido, jogar-se ao nada há procura do todo, mesmo que para isso haja o risco de espedaçar-se por completo. Sempre fui assim, intenso. Nunca gostei das coisas pelas metade, nunca procurei por meio carinho, meio amigo, meio amor. O mediano, o medíocre, não me provoca. Gosto do que me desafia, do que me faz sentir, do que me dá a certeza de que estou vivo. Se estou vivo, sofro, sorrio, caminho e continuo. Sempre estive disposto a lidar com o que me aparece pelo caminho, com o que o destino joga pela estrada e que numa falsa intimidade grita “ se vira”. Era bom assim, apesar das tensões criadas por uma rotina tediosa eu conseguia me guiar, até que algo me tirou do eixo. Uma Paixão, sim com p maiúsculo, me foi colocada como desafio.

Aquariano com ascendente em câncer – muito do que aconteceu poderia ser resumido com essa única frase, se sabe dos signos, sabe do que digo. Eu nunca havia passado por tamanho caos, o destino parecia querer me provar mais do que nunca, de que sim : corria sangue pela minhas veias e a vida estava latente, pulsante.

Da alegria extrema a indícios de depressão – diagnosticada por médiuns e médicos. Hoje, consigo analisar de fora, me envolvendo menos, e ver como fiz coisas erradas e como a vida foi me dando sinais de como tudo acabaria – mas eu, imaturo e teimoso, recusei-me a ver. Tão grandiosa foi e experiência que consegui, com facilidade, conhecer-me melhor. Descobri um eu muito mais autêntico, mais crescido, mais homem depois do ocorrido. Eu havia crescido e foi preciso muita dor para isso. Eu havia crescido e descoberto um de meus maiores medos e, ultimamente, companheira constante: a solidão.

Sempre fui muito sozinho, mesmo quando criança já gostava de ter o meu espaço e de poder construir-me como ser humano sem grandes dependências. O vazio, o silêncio pode ser tão prazeroso, quanto duro, dependendo da situação da vida em que nos encontramos. O processo de autoconhecimento, tão necessário para a evolução espiritual ( e terrena, por que não?), é doloroso e nada fácil. Difícil aceitar como as coisas acontecem, difícil lidar com o que não esperamos, com o novo, com o diferente, com o que diverge e nunca se encontra – paralelas. Seria eu uma linha paralela? Encontrar-me-ia em pleno vácuo em uma busca constante para nunca encontrar? Viver dessa maneira, esperando algo que nunca vai acontecer, é sofrer e saber porque se sofre. Acostumar-se com a solidão ou buscar pelo novo mesmo quando o novo não faz sentindo e não te cativa? Se não me cativa, dispenso e passo adiante.

Existem coisas na vida que são insubstituíveis e nelas incluo pessoas. O sorriso, o toque, as manias – coisas que ficam, e não simplesmente passam. Os momentos, as conversas os beijos – coisas que marcam, e não simplesmente acontecem. Escolho pela solidão por preferir assim, por acreditar que nada possa substituir o que um dia já senti, e isso me assusta.

Me causa espanto por ser decisão minha e por eu estar trilhando um caminho no qual posso me perder – ou já estaria eu perdido? Ando pelas trilhas sem deixar migalhas de pão, ando desatento seguindo adiante despreocupado, com a cabeça leve e o coração – ah, sempre o coração – repleto, cheio e saturado. Estou só, ecoa pela minha mente. Estou só. Uma aflição começa a preencher todo meu vazio emocional e a desordem se instaura. Choro, grito e durmo. Choro, grito e durmo. Cíclico assim. Me dá medo isso, me dá medo a solidão. O estar só sempre me foi muito querido, sempre muito almejado. E quando, de fato, conquistamos o que queremos – ou os anjos, do céu, dizem amém – nos perguntamos : e agora?
Faço minha prece e deito. Que seja como deve ser.

- Entendi. E como você se sente a respeito disso?

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ensaio: O Homem pós-moderno e a convicção do Não

Escolhas, direções e melhores destinos. Nunca foi fácil saber por onde ir, nunca foi certo que o caminho a ser seguido fosse nos trazer o que tanto almejamos. Existe um vazio que fica, e que por ser tão imenso chega a causar eco com uma simples respiração ofegante, respiração essa provocada pelas incertezas, pelo medo, pela ansiedade de ser incapaz de conquistar o que se planeja.

Há aqueles que, certos de sua derrota, já não procuram, se deixam levar. Vagam pelas grandes metrópoles (ou pequenos povoados – isso já não importa) na esperança de que o destino lhes reservem uma miserável migalha de esperança. O ânimo, a essência da alma humana, já não existe. Em compensação, temos a dor, a fraqueza, a ilusão. Apesar de saber que nada seria fácil e que se propôs a isso, tempos antes de aqui estar, fica impossível assimilar certas mazelas sem sentir-se frustrado e incapaz. Sua única certeza (convicção e crença) é o não. Três letras presentes no caminho do homem, três letras costuradas em seu destino como se faziam as antigas mulheres que cuidavam dos teares. Três letras enraizadas em seu corpo, físico e espiritual, como uma grande mangueira no auge dos seus 120 anos.

O homem enfraqueceu. Perdeu a vontade de se descobrir, já não sabe se reinventar. Aceita, de cabeça baixa, o que lhe é colocado sem ao menos se questionar. Engana-se, e muito, quando através de alguma reflexão barata e imbecil pensa estar recuperando o que foi perdido, trazendo a tona o que está oculto. O homem pós-moderno toca a superfície com a ponta dos dedos e contenta-se com isso. Não existe a ânsia pelo novo, pelo incrível, pelo inimaginável. “Vejo o que toco, toco o que vejo e isso me basta”. Ele não se ama e, consequentemente, a caridade quase inexiste. Não ama ao outro, porque não ama a si mesmo. O ser individual prevalece sobre todas as coisas, a amargura egoísta e a maldade egocêntrica dominam as escolhas, prevalecem sobre os mais belos sentimentos que já existiram. O caos domina e traduz, quase que perfeitamente, o que existe interiormente.

Abstrata, a felicidade escorre pelas suas mãos e que, por não ser sólida, se desfaz pelo ar. Perdida, vaga entre um grão e outro de poeira em busca de alguém que esteja disposto a aceitá-la da maneira como chegar. Sem mais idealizações, sem mais essa busca incessante pelo perfeito, ela chega tímida e vai embora num piscar de olhos, por isso é difícil tê-la sempre por perto. Hoje, pior do que ontem, o homem conflituoso e incerto do que busca já não passa nem perto de tocá-la e contenta-se com isso, com o “não ter”.

Compartilhar causa-lhe dor, ajudar não lhe dá lucros, se doar não lhe dá vantagens. O ego se sobrepõe e destrói tudo por onde passa, sem piedade. E ele continua aceitando, continua vendo na desgraça alheia (e na própria) motivos para mais destruição. Aceitar o não, por mais cômodo que seja, talvez seja a pior coisa que o homem tenha feito. A vida não se transforma, a sociedade não se modifica e homem não cresce. Nos entregamos, a cada dia, a nossa maior tragédia.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Aos amantes, aos amados.

Sabe quando você sente que algo não te pertence mais? Talvez pelo tempo que se passou, talvez pela vida dos dois que já mudou completamente. Sabe quando você se sente mais que outro? Quando você percebe que aprendeu muita coisa, que cresceu, enquanto a pessoa estagnou, parou no tempo e não fez um mínimo de força pra sair do lugar? Estranhamente curioso.

Pra um , os assuntos são os mesmos, assim como as pessoas, os lugares, os amigos, os gostos. Enquanto que pra outro nada mais está no lugar. Não! Não que isso seja algo ruim. “Não estar no lugar” pode significar mudanças. Boas mudanças em direção a coisas novas, a outras conquistas e a outros caminhos e outros objetivos que, com ele, já não fariam sentido.

Não fariam sentido porque as duas almas se afastaram. Perderam o contato, perderam as essência. Não fariam sentido porque já não dividem os mesmos sonhos e muito menos almejam as mesmas conquitas.

O amor tem dessas coisas. Vem, chega e passa. Por mais que demore, passa. E fica uma lembrança boa. Fica marcada como ferro quente em couro. Fica marcada no peito. Mas assim como a dor do objeto queimando a pele - sem nenhum anestésico - doi lembrar o que passou e ficou pra trás. Doi quando você vê que tudo poderia ter sido melhor aproveitado.

O amor tem dessas coisas. Te amo, apesar de saber - e aceitar - que nossos caminhos nos levam a lugares distintos. Você não me pertence e agradeço por isso.

Ps.: Desculpem os erros de grafia. Texto escrito em uma vomitada de 5 minutos.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Ponte

Num lugar, não muito distante, existia uma ponte. A população tinha o costume de usá-la de acordo com suas necessidades. Sempre se aproximavam dela, com todo o cuidado, pisando leve como se a mesma fosse feita com cascas de ovos. Experimentavam o terreno, tentando retirar o maior número de informações e captar sensações que a ponte poderia passar.

Muitos se arriscavam sem ao menos saber se era, ou não, seguro atravessá-la. Andavam por ela e não se preocupavam com as possíveis consequências. A ponte, que não é tão ingênua quanto possam estar imaginando, não deixava barato. Sacudia-se toda e derrubava tudo o que achava que merecia ser derrubado.

Mas a final, qual seria a função da ponte? Para muitos a pergunta é tola e a resposta óbvia. Mas não se iluda, meu caro. A ponte, pelo menos a desse vilarejo específico, não servia apenas como elo de ligação entre dois ambientes distintos. A ponte servia , mais e também, como um recanto de oportunidades no qual as pessoas poderiam encontrar um pouco mais de paz e alegria.

Era feia e desgastada. Feita com pedras de meados de 1889, já estava há muito tempo em pé. Dizem que sua finalidade, desde sua origem, foi um mistério. Os primeiros a passarem por ela, disseram sentir uma espécie de energia que não pertence aos seres isentos de matéria viva. Lendas e mais lenda foram criadas para tentar decifrar o mistério da rústica ponte.

Passado tantos anos, ela continuava lá. Firme. Transportando as mais diversas personalidades, os mais diversos sonhos e aproximando , cada vez mais, pessoas da felicidade que almejavam. O que ninguém nunca reparou é que a ponte poderia se sentir mal por ter que carregar tantos pesos sem ao menos ser reconhecida. Reconhecida? Um ser isento de matéria viva precisa sentir algum tipo de emoção? Desde quando? Era isso que pensavam. Pobres coitados, mal sabia que a ela era quem mais ficava feliz quando encurtava as distâncias e proporcionava os melhores momentos para todas aquelas pessoas.

Pobre ponte. Sozinha no cair da noite. Sozinha no nascer do dia. Por mais que passassem pessoas pelo seu caminho, continuava sozinha, sozinha, sozinha... e assim seguia ( ou deixava seguir).

domingo, 23 de janeiro de 2011

possibility

Eu poderia tentar transpassar por aqui o que ele estava sentindo. Menino confuso. Menino complicado. Vivia no seu mundo de sonhos e ilusões e achava, por puro egoísmo, que as pessoas deveriam participar dessa narrativa lúdica e surreal. Ele sentia demais. Esse era seu grande problema, o peso que deveria carregar – e sabia. Sabia também que isso poderia mudar, que bastava ele passar a enxergar a vida através dos olhos da sabedoria, ouvir os conselhos que lhes eram dados , saber distinguir e selecionar as informações que chegavam até ele e coloca-las em prática.

Não acreditava em uma sina, ou em um sofrimento que necessariamente deveria enfrentar para superar antigos dilemas. Ao mesmo tempo em que sabia que, vez ou outra, algo sempre ficava para traz, sempre ficava mal resolvido e sempre existiria a chance de recomeçar e, por fim, fazer a coisa certa.

Esse menino era intenso, sensível e dramático – encenava algumas peças fora do palco e era sempre ovacionado. Ele usava algumas habilidades de maneira errônea. Não há problema em sentir demais, em ter as emoções saindo por cada poro da pele. A grande questão está no fato de não saber lidar com sentimentos tão intensos, ao ponto de tomar sérias decisões tendo como órgão racional, o coração.

Chegamos num ponto crucial. O coração. Como bate o coração desse menino, como bate! Imagine, todas as questões da vida, passam por alí. Claro, que no caso dele que usava o órgão pulsante como uma espécie de líder, e dava a este a palavra final, passando por cima de qualquer outra coisa. “Não faça isso, seu tolo. Não percebe o quanto está perdendo por se sujeitar a tamanha idiotice? Use o cérebro. Ele não está aí atoa.” Já havia ouvido isso muitas vezes, de diferentes pessoas, até de entidades, e porque tanta dificuldade em assimilar? Teimosia? Fraqueza?

Tantas coisas no coração, poucas coisas na cabeça. Menino desastrado, o que foi que ele acabou fazendo com a própria vida? Mas também não o julgo, ele não teria como saber que suas emoções poderiam leva-lo aonde está. Só rezo, rezo muito por ele. Acredito que mais cedo , ou mais tarde, ele vai ver o que está fazendo consigo mesmo e vai mudar. Eu sei que ele consegue. Eu confio. O problema é que ele não acredita.