quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sim.Sol

- Oi?
- Olá.
- Tudo bem, menino?
- Tudo. Acho que sim. E com a senhora?
- Estou bem. E com fome.
- Já é tarde, não?
- Já. Posso me sentar com você?
- Claro que sim, fique a vontade.
- Eu já vi você aqui outras vezes, menino. Vem sempre sozinho.
- Pois é. Eu sou sozinho mesmo, acostuma.
- Eu sei bem que acostuma. Também sou sozinha.
- Hum.
- Quer um suco?
- Não, senhora, o meu já chega.
- Tudo bem. Não se sente mal por estar sempre assim?
- Assim?
- Assim?
- Sabe como, menino.
- Não me importo. Não mais. Faz tempo que as coisas estão assim.
- As coisas ou você está assim?
- Hum.
- Sabe a resposta.
- Senhora... sua comida... vai esfriar.
- Meu bife! Ai que cabeça. Gosto dele bem quentinho.
- Então dê uma boa garfada e coma.
-...hm..hm
-....
- Você não me respondeu, menino.
- O que?
- Sou velha, mas não sou tola!
- A senhora é difcícil.
- E então?
- As coisas estão assim. Eu estou assim. Tudo está assim. Dessa forma.
- Abstrato.
- Completamente sem forma.
- Já tentou organizar?
- Já.
- E?
- Perca de tempo.
- Sempre meio vazio com você.
- A senhora me julga como se me conhecesse.
- Sei bem quem é.
- Que mania algumas pessoas tem de dizer que me conhece. Prepotentes.
- Você é tão óbvio, menino.
- Obrigado, senhora.
- Imagina
- Acho que liberou uma mesa alí. Se quiser...
- Não, estou bem aqui.
- Ah, meu suco. Obrigado.
- Menino, você anda tão triste, menino.
- Senhora, o que quer saber?
- Porque.
- Não sei dizer. As coisas são, se não são ficam. E se ficam, eu também fico.
- Não deveria.
- Eu sei.
- Então porque?
- Não sei.
- Então?
- Falta alguma coisa. Parece que nada se encaixa.
- Defina.
- Parece que veio faltando uma peça.
- Sim
- Ou trocaram, por pura maldade.
- Fatalismos
- Eu acredito
- Eu também.
- E o que eu devo fazer, senhora?
- O que fazer?
- Ajude-me,por favor.
- Menino, preciso ir. Me esperam.
- Tudo bem. Adeus.
- Estou sempre com você.
- Como?
- Vai saber o que fazer.
- Ai senhora, sem metáforas.
- Sou sempre literal.
- E eu também. Por isso sinto tanto.
- Mal chega, e você já sente.
- Quando chega, já senti demais
- Evite isso, menino. Pra longe disso, menino.
- Me conhece bem, senhora.
-...
- Senhora deixou cair sua...senhora?

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