terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

horrivel é ...

...invadir a privacidade alheia e ainda querer tirar satisfação.
... querer censurar o que os outros pensam.
... ler o que não lhe foi escrito.
... querer humilhar as pessoas.
... ter uma postura anti-ética.
... ter prazer em ser ignorante.
...ser falso moralista e hipócrita.

Basta.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

encontro de lispector com deus ( ou de deus com lispector).

- Clarice?

- Pois não?

- Finalmente nos encontramos.

- Com quem falo? Quem me aguardava? Onde você está?

- Aqui

- Não posso enxergar-te.

- Por enquanto.

- Tudo para mim, até após a morte, insiste em ser um mistério.

- Me responda, considera que sua passagem pela Terra foi algo proveitoso?

- Não sei dizer.

- Não me entende?

- Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado.

- Então...

- Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.

- Eu te entendo.

-Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca. Se você me criou, seria esperado que me entendesse.

- Não te entendo.

- Aqui se pode fumar?

-Não me importo.

- Creio que fui enterrada com um maço de cigarros...

- Fique a vontade.

-...aqui está.

- Você foi ousada em tentar desvendar o ser mais enigmático que criei.

- Eu falhei nesta missão. Tentei ,mas o que eu sinto não é traduzível.Eu me expresso melhor pelo silêncio. E como ninguém conseguiu ler meu silêncio...sinto que falhei.

- Está calma para quem sempre temeu a morte.

- Temia, mas ainda creio que é uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde. Não é justo. Ou seria?

- O justo é relativo , Clarice.

- Deixe-me voltar?

- Para onde?

- De onde eu vim.

- Você já foi e já voltou de tantos lugares

- Sempre desconfiei.

-Várias vidas, várias formas, várias experiências. Muitas Clarices.

- Sentia isso em mim.

- E pra que voltar?

- Você bem deve saber que o que obviamente não presta sempre me interessou muito.

- Quem é Clarice?

- Você disse que me entendia.

- Te entendo. Quem é Clarice?

- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.

-Quem é Clarice?

- Porque insiste?

-Por que gostaria de descobrir.

- Não escondo nada.

- Sei bem que não.

- Eu sou uma longa frase com um ponto de interrogação,varias virgulas, mas nenhum ponto final.

- Eu sou seu ponto final.

-Não é possível. Não tenho fim.

- Realmente, você nasceu para tomar conta do mundo.

- Sei bem; nasci incumbida.

- Você não volta mais , Clarice.

- E porque não?

- Sua missão já foi cumprida. Eu preciso de você aqui.

- A Deus eu só poderia dizer adeus. O que precisa de mim?

-Que me ajude a compreender minha obra.

- Cada artista que compreenda o que fez. Se lhe fugiu das mãos a interpretação,sinto muito.Não lhe posso ser útil.

-Não é assim.

- E como é?

- Você é parte de mim. Uma grande parte de mim que mandei a Terra.

- E por que fez isso?

- Os homens mereciam um pouco dessa nossa lucidez embriagada por devaneios.

- Isso dei a eles, certamente.

- Então fico?

- Fica.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

considerações sobre o tempo

Às vezes faz-se necessário um tempo para a não-vida. Um tempo para o existir por puramente existir. Um tempo de todos.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

minha droga

Cada pessoa é capaz de distinguir qual substância a entorpece. Cada pessoa escolhe e usa , às vezes abusa, de algo que a completa, preenche, recria, glorifica, engrancede. Sentir-se bem ( sentir-se verdadeiramente um indivíduo)é algo passível de compreensão; cada um sabe onde buscar prazer e de que maneira fazer isto - é quase que uma habilidade inerente a cada alma dentro deste planeta ( quem sabe fora?). Prazer este que causa gozo por causar.Que causa satisfação , às vezes intelectual , às vezes sentimental , às vezes até mesmo carnal, por causar. Caio numa alegria súbita, enquanto escrevo - pois alguns devem saber, já, que escrever me dá fôlego, me reanima; é quase como voltar a vida; viver novamente - incoerente, indecente , mas crente de que estou vivo. E se estou vivo, escrevo. Mas voltando ao ponto fundamental do qual, se não tomo cuidado, quase me distancio: cada um possui a sua droga. Não droga no sentido pejorativo de coisa ruim, imprestável, de uma exclamação que se solta quando está dando tudo errado. Esta é uma droga diferente, uma droga passível de amor, compreensão, adoração - pelo menos a minha.É diferente.É uma droga que alivia , que entorpece ,que me deixa mais leve, mais a vontade , mais não-triste, mais hu-ma-no ( sim , separado sílaba por sílaba). O que me faz perder os sentidos, o juízo e ao mesmo tempo me alivia, além de escrever - fato óbvio- é a publicidade. Cada título novo que surge, cada idéia genial que aparece - confesso que nem sempre aparece uma idéia genial , e sofro por isso. É como se eu mesmo me privasse de minha mais apaixonante dependência - cada slogan bem escrito, cada vídeo bem produzido. Ahhh, entro em nirvana , em êxtase. Talvez eu seja um caso patológico: minha sujeição a propaganda aumenta a cada dia. Todo o dia. O dia todo.


nota: texto todo em negrito, pois o que eu sinto é forte. Forte.