terça-feira, 19 de abril de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

mensagem do dia

"Agora, um recadinho para vocês:

Difícil e necessário: sair da zona de conforto e ir em busca do que realmente se quer. Não adianta ficar esperando para que o destino coloque o que você tanto busca em seu caminho. O destino é amorfo e intocável. Foi criado pelo e para os homens com um único objetivo: jogar nele a culpa de nossas frustrações e impossibilidades. Claro, ter a quem culpar sempre deixa as coisas muito mais fáceis.

Saia dessa agora mesmo. Tire as lentes míopes e comece a ver o mundo com outros olhos. Enxergue nas dificuldades uma oportunidade e encare todos os desafios com garra e determinação. Não se deixe abater pelas frustrações e mágoas de uma conquista não alcançada: se ainda não chegou, é porque não era o momento. O tempo é sábio, é o Deus que coloca em suas mãos aquilo que você pode e deve alcançar.

Mais uma semana está começando. Vamos colocar um sorriso no rosto e sair em busca dos nossos sonhos? Basta acreditar e eles podem acontecer. Acredite, menina.

E eu vou ficando por aqui. Até amanhã"
CORTA

Valeu pessoal. Valeu.

- Mais um dia se foi, mais um dia.

domingo, 17 de abril de 2011

Paixão Segundo HG

Eu não te conheço.
Você não me conhece.
Mas eu sinto que deveríamos.

Eu sinto.

Sem medo dos riscos
ou de pequenos perigos
que possam aparecer pelo caminho.
Isso, segure minha mão.

Eu sinto.

Já perdemos muito tempo,
já se passaram meses, anos
e nos encontramos aqui.
Ainda desconhecidos.

Eu sinto.

Me dê o seu belo sorriso,
me entregue seus lábios
me diga Clarices.
Segure minha mão

Eu sinto


Vamos juntos.
Rumo ao desconhecido,
vamos juntos?

Eu sinto.

sábado, 16 de abril de 2011

Receba

Meu amor,

Quanto tempo, como vai você? Hoje me peguei relembrando alguns momentos que passamos juntos, tempos atrás. Não que eu ainda pense em você, mas hoje aconteceu o inevitável: me encontrei com minhas lembranças, no mais escuro beco da minha alma, na mais profunda sala das sensações passadas. Encontrei um desenho , acredita? Encontrei um belo desenho que você havia feito em alguma ocasião. Árvores em todas as cores quentes, muitas. Era assim como eu me sentia naquele exato momento,multi-colorida. Como você sabia? Do vermelho ao amarelo cítrico, do laranja ao verde-limão, multi-colorida.

Já faz alguns anos que não nos falamos, talvez até tenha se casado, tenha filhos, uma casa linda com um jardim imenso e uma esposa dedicada. Será que ela sabe lidar com as suas manias? Como me irritava quando ficava calado diante algumas situações. Eu acabava tomando todas as decisões, eu é quem conduzia nossa dança - neste quesito seu cavalheirismo deixou a desejar. Mas já passou, acredito que tenha mudado. Eu acredito.

Você ainda fuma? Um romance alto-destruitivo o nosso. Dividíamos maços e maços de cigarros com filtro vermelho, se recorda? Eu ainda carrego as marcas desse vício - respiro com dificuldade. Era tão bom, nossa era tão bom. Final da tarde naquele grande parque, olhando para lua, sentindo o vento frio típico na nossa cidade, abraçados e unidos pelo vermelho, até o filtro. Unidos como a saliva e filtro. Como lábios e filtro. Como um duplo-filtro que ao mesmo tempo que purifica, mata.

Estou rindo. Não, não de você. Estou rindo pelas coisas que vivemos, relembrando, vivendo novamente. Éramos tão jovens, tão imaturos. A ânsia por viver o desconhecido, por explorar todas os caminhos que a vida oferecia, por se jogar sem ter que manter algum compromisso, acho que foi isso que acabou com a gente. Eu tentei aproveitar até a última tragada, na verdade segurei a fumaça por mais tempo até que deveria. Já você, vi que soltou rápido, acredito que depois nos afastamos até parou de fumar. Eu me viciei, me viciei. E carrego marcas até hoje. Já disse que sinto dores no peito? Dizem que é no pulmão, eu já não tenho tanta certeza.

Já não estou rindo. O que poderia ter acontecido se tivéssemos seguidos juntos? Hoje tenho duas filhas, lindas aliás. Clara e Maria, lembrei-me de você quando a primeira nasceu. Era esse o nome que daríamos a nossa primogênita. Mas não sou casada, não mais. Nunca o amei como amei você, sabia? Aquela sensação de querer estar junto,pra todo o sempre. Na verdade não sei se deveria estar lhe escrevendo agora, desenterrando essa história. Não sei qual vai ser sua reação ao ler isso. É que eu encontrei um desenho que me representava: multi-colorida.

Mas me conte de você, como você está? A última notícia que tive sua foi há tempos, meu Deus, eu tinha 30 anos. Era uma menina ainda. Uma amiga nossa em comum disse ter encontrado você no aeroporto de São Paulo." Olhos verdes, aquele mesmo cabelo bagunçado. Um sorriso lindo, e muito bem de vida." Ela disse que o tempo não passou para você, que está inclusive mais bonito desde quando terminamos. Fiquei curiosa. Perguntei sobre alguma aliança, ela não soube responder. Disse que não trocaram muitas palavras. Talvez estivesse indo fechar algum grande negócio, ou encontrar com sua bela senhora esposa em uma outra cidade. Você carregava uma pasta cheia de papéis "São projetos. Ele os carrega para cima e para baixo. Desde aquela época. Pelo jeito não mudou quanto a isso." disse nervosamente a nossa amiga - que ficou espantada com tantas lembranças que ainda guardava em minha memória.

Está no coração, por isso não esqueço. Não ousaria guardar qualquer lembrança sua que não fosse lá. Que saudade, meu amor. Que saudade. Será que você ainda se lembra de mim?Eu sempre tenho minhas dúvidas quanto a isso. Não, eu não estou cobrando, longe de mim. Só ficaria feliz se lembrasse quem sou, ou quem fui algum dia em sua vida.

Já foram três cigarros até aqui. Me viciei. Já disse que me viciei? E quando a gente vicia em algo, quando se cria dependência, quando as raízes se fixam firmes no chão é complicado conseguir êxito em alguma mudança. Me acostumo com a desordem e a tomo como referencial de organização. Estou presa a essa bagunça, em pleno labirinto sem saber onde está a saída, ou como resolver o impasse. Não que eu ligue, mas tenho consciência disso. Estou perdida num caminho que pensei ter criado junto a você, me perdi. Não há mapa, nem setas, nem placas. Caminho sem rumo. Estou perdida em mim, estou perdida em você. Sabe onde me encontrar? Não, não moro mais alí. Não me habito, não sou dona de mim. Sabe como me encontrar? Eu saberia, se não o tivesse conhecido. Eu te amo, não me deixe perdida e , o pior, sem tê-lo junto a mim. Meu endereço está na parte de trás, meu eu físico vai ser facilmente encontrável. Em carne e osso, vai poder chegar até mim. Espero que não apenas em osso. Caso se perca, mando um desenho para que possa me encontrar. Esqueça o endereço e siga as cores, não vai ser difícil. Hoje sou multi-colorida, só que ao contrário.










Até breve.
Com carinho,

K.L

quinta-feira, 14 de abril de 2011

.parar

tenho pensado tanto.
preciso parar um pouco

( de pensar, de criar, de imaginar)

parar por parar.
ponto. parar. ponto.

acabar.

Sim.Sol

- Oi?
- Olá.
- Tudo bem, menino?
- Tudo. Acho que sim. E com a senhora?
- Estou bem. E com fome.
- Já é tarde, não?
- Já. Posso me sentar com você?
- Claro que sim, fique a vontade.
- Eu já vi você aqui outras vezes, menino. Vem sempre sozinho.
- Pois é. Eu sou sozinho mesmo, acostuma.
- Eu sei bem que acostuma. Também sou sozinha.
- Hum.
- Quer um suco?
- Não, senhora, o meu já chega.
- Tudo bem. Não se sente mal por estar sempre assim?
- Assim?
- Assim?
- Sabe como, menino.
- Não me importo. Não mais. Faz tempo que as coisas estão assim.
- As coisas ou você está assim?
- Hum.
- Sabe a resposta.
- Senhora... sua comida... vai esfriar.
- Meu bife! Ai que cabeça. Gosto dele bem quentinho.
- Então dê uma boa garfada e coma.
-...hm..hm
-....
- Você não me respondeu, menino.
- O que?
- Sou velha, mas não sou tola!
- A senhora é difcícil.
- E então?
- As coisas estão assim. Eu estou assim. Tudo está assim. Dessa forma.
- Abstrato.
- Completamente sem forma.
- Já tentou organizar?
- Já.
- E?
- Perca de tempo.
- Sempre meio vazio com você.
- A senhora me julga como se me conhecesse.
- Sei bem quem é.
- Que mania algumas pessoas tem de dizer que me conhece. Prepotentes.
- Você é tão óbvio, menino.
- Obrigado, senhora.
- Imagina
- Acho que liberou uma mesa alí. Se quiser...
- Não, estou bem aqui.
- Ah, meu suco. Obrigado.
- Menino, você anda tão triste, menino.
- Senhora, o que quer saber?
- Porque.
- Não sei dizer. As coisas são, se não são ficam. E se ficam, eu também fico.
- Não deveria.
- Eu sei.
- Então porque?
- Não sei.
- Então?
- Falta alguma coisa. Parece que nada se encaixa.
- Defina.
- Parece que veio faltando uma peça.
- Sim
- Ou trocaram, por pura maldade.
- Fatalismos
- Eu acredito
- Eu também.
- E o que eu devo fazer, senhora?
- O que fazer?
- Ajude-me,por favor.
- Menino, preciso ir. Me esperam.
- Tudo bem. Adeus.
- Estou sempre com você.
- Como?
- Vai saber o que fazer.
- Ai senhora, sem metáforas.
- Sou sempre literal.
- E eu também. Por isso sinto tanto.
- Mal chega, e você já sente.
- Quando chega, já senti demais
- Evite isso, menino. Pra longe disso, menino.
- Me conhece bem, senhora.
-...
- Senhora deixou cair sua...senhora?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

go away

Hoje senti o que não tem nome. O desconhecido, o não tocável. Se não toco, não existe. É assim? Não. Hoje senti-me estranho ao escutar depois de meses aquela música. Aquela canção que falava sobre um telefone não parava de tocar, aquele telefone que ninguém atendia porque estava k-kinda busy.

K-kinda weird. Não tem nada a ver com amor, ou tem de certa forma. Mas não o amor que os homens estão acostumados a lidar, aquele amor carnal, físico, sexual. Era algo de espírito. De espíritos que se encontraram em meio a tantos. By the way, uma fase incrível e turbulenta. Talvez incrível por ser turbulenta, ou turbulenta por ser incrível. Mas uma época que jamais vai me sair da minha memória. Aquela irresponsabilidade gostosa de quem estava começando a descobrir caminhos por outra hora nunca percorridos. Encontrando por esse lugar, outros com as mesmas vontades, curiosidades. Outros sonhadores que não viam no limite a impossibilidade de se aventurar. Please, baby, stop calling. I'm having fun with my crew. Como em poucos meses nossa vida pode dar um salto quase que em 180 graus. Já não existe aquela motivação, nem aquela vontade de descobrir o novo - será que descobrimos tudo o que deveríamos? será que abusamos do destino e fomos além? Fomos tão longe que, já depois de tanto tempo, não conseguiremos voltar? - não existe mais.
Ramos, ramificações, bifurcações, curvas sinuosas, estrada de madeira velha, estrada acidentada, caminho incerto, caminho mais que certo. Tomou-se a direção e seguiu-se. Sem olhar pra trás. Sem sequer olhar pra trás. Antes, chamaria sem pestanejar : egoístas! Mas já não há o que ser feito. Quando a coisa vai, é porque tem que ir. Se seguramos, ela escapa por entre nossos dedos. E aí vai ser pior. Vai ser pior porque vai ficar os vestígios da coisa ( entre os dedos, entre as unhas) e jamais vamos conseguir nos libertar.

Vai. Vão.
Eu fico.

Por ser teimoso.
Por ser orgulhoso.
Por ter perdido aquilo que chamam de fé.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Santa Sina

Os sinos da igreja batiam. Já era próximo das 10 horas e Madame M se arrumava em seu aposento. Abriu seu guarda-roupas e escolheu seu vestido mais longo, mais negro, mais sedoso. Apesar de ser usado só em ocasiões como a que ocorreria no dia, tinha seu charme e toda a elegância da dona. Era bonito, trazia algumas pedras azuis e alguns brilhantes que ajudavam a costurar o grande decote. Como é bonito, nunca vi em lugar algum algo tão sublime. Se existe perfeição, ela foi toda costurada junto a minha mais valiosa peça. Depois de vestida, foi até seu grande armário, no qual se encontravam exemplares únicos de sapatos de grandes estilistas europeus com os quais, vez ou outra, toma um delicioso chá às 5 – como mandava a tradição. Fechou os olhos e passou as mãos, sentido a textura de cada um. Estava decidida que, naquele dia, iria se deixar levar pelas sensações, pelo o que sentia. Não... não... não... este é o que vou usar. Abriu os olhos e , antes mesmo de enxergar o que tocava, retirou-o do armário com toda a intimidade de quem conhece seus pertences. Sabia que seria você. Escolheu um preto, que quase se confundia com o azul marinho, dono de um salto enorme. Dirigiu-se a um antigo baú e dele retirou um lindo colar no mesmo tom das pedras que estavam no vestido. Encarou um espelho que ficava em frente a sua cama e suspirou. Só mais este detalhe e... pronto. Passava a mão por cada pedra, sentindo-se dona do mundo e muito poderosa.

Madame M olhava insistentemente seu reflexo como se dele quisesse retirar alguma resposta. Por mais que tentasse passar a imagem de uma mulher segura e centrada, estava nervosa.

- Madame, todos..

- Quer me matar do coração, Alice? Desaprendeu a bater na porta?

- Perdão senhora, é que..

- Senhora? Tenho cara de senhora? Senhora é a sua mãe, que certamente já passou dos 50.

- Senhorita, perdão, mas é que...

- Sua inconveniente. O que quer aqui, diga logo antes que eu perca minha paciência.

- Madame, todos já estão pontos e aguardam por você.

- O carro que pedi já está estacionado no lugar de costume?

- Certamente que está.

- E as pestes?

- Seus filhos?

- Não me faça perguntas com perguntas. Como você me irrita, Alice.

- Perdão. Mateus e Marcos já estão no carro e aguardam sua presença.

- Já vou. E desapareça daqui.

- Até breve, Madame.

A governanta encurvou-se e saiu rapidamente do quarto. Madame M procurava sua bolsa. Odeio funerais, odeio. Sim, era minha mãe, mas qual o problema? Todos tem que partir algum dia, todos. Essas convenções sociais que ditam como se sentir em determinadas situações.. não, eu não estou triste, estou preocupada. Preocupada porque era ela quem cuidava dessa casa, quem colocava ordem nesses serviçais insolentes, quem olhava pelos meus filhos e observava a cozinha todos os dias, para que não envenenassem nosso alimento.. ah, o veneno. Desse tipo de gente pode-se esperar de tudo. E quem disse que essa complicação da saúde de mamãe não foi provocada por algum empregado da casa? Preciso me cuidar, era tão bom ter alguém para tomar conta disso tudo, agora estou só. Só não, estou com as pestes, Alice e os criados.

Madame M saiu do quarto e foi em direção as escadas. Era alta e tinha muitos degraus. De lá, podia observar toda sala e dez de seus empregados, dispostos 5 de cada lado da escadaria imensa, cabisbaixos. Desceu arrastando o longo vestido sem olhar para os lados.

- Estarei de volta para o almoço.

Entrou no carro preto e seguiu em direção a igreja. Os filhos de Madame M pareciam estar bem abatidos com tudo o que ocorrera. Olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

- Mamãe, ela não volta nunca mais?

- Não – Foi seca e objetiva na resposta.

- Mamãe, ela não vai mais cuidar da gente?

- Não.

- Nem do jardim?

- Não.

- Mas as plantas vão morrer e..

- Tudo nessa vida morre, meu filho. Você já está bem grandinho e precisa entender isso. Seja homem, já tem 10 anos.

- Temos 9 mamãe.

- Isso, sejam homens – disse enquanto retocava o batom forte vermelho-sangue. Continuou – Mas não homem como o pai de vocês, aquele cretino. Pelo menos me deixou uma generosa herança.

- O que é herança, mamãe?

- Coisa de gente adulta, não lhe interessa.

Mateus e Marcos sofriam com a perda da avó, viam nela a mãe que nunca tiveram. Apesar de estarem acostumados com a secura da mãe, cada palavra mal dita machucava os meninos como um tapa na cara em um dia frio.

Já vamos chegar e isso tudo vai acabar. Eu não suporto a ideia de vê-la gélida e estática dentro de um caixão, é muito para eu digerir. Esse esmalte... preciso demitir o maldito que o comprou. Ah minha mãe, de que adiantou tanta bondade? De que adiantou essa vidinha medíocre passando tardes e mais tardes junto àquelas plantas fétidas ... preciso dar um jeito de acabar com aquela estufa nojenta. Todo esse amor pelos meus filhos, coisa patética, eles são meus, só meus agora. Eles nunca precisaram da sua atenção, mas eu os deixava com você, estava ficando velha e precisava se distrair. Tudo bem, confesso que gostava de ficar livre dessa obrigação, as pestes não me deixariam em paz. Onde já se viu criar intimidade com serviçais? Trocar intimidades com subalternos, expor-se a Alice como se esta fosse capaz de compreender o que se passa em nosso mundo? Coisa absurda... é, definitivamente, a insanidade havia chego. Minha pobre mãe. Vou sentir saudades, ah se vou. Vai ser tão estranho aquela mansão sem você.. agora teremos mais um quarto de visitas, ou de empregados.. empregados em cima? Jamais. Um quarto para os pequenos se divertirem, talvez até usem suas jóias mamãe, seus vestidos, usem sua maquiagem caríssima francesa e brinquem de teatro, imitando aos príncipes e princesas de nossa terra. Que brinquem de teatro, mas que sejam diplomatas. Ou médicos. Nunca se sabe o dia de amanhã... e se minha fortuna extinguir-se? Não posso correr este risco. Risco? Que risco? O depois, os distante, o que ainda está por vir me dá ânsia. O incerto, o imprevisto, o não-reto me causam uma enorme enxaqueca. Pro diabo o que vão ser. Na melhor das hipóteses caso-me novamente com outro velho milionário asqueroso, faço-lhe um chá de coroa-de-cristo e já cumpro o cerimonial de apresentá-lo a mamãe. Hum, afazeres domésticos, nunca soube o que é isso e não pretendo saber. Você cuidava de tudo, era tudo tão organizado, tudo tão perfeito. E agora? Egoísta, deixou-me aqui com tanta responsabilidade, com tantas coisas a serem feitas. Vida injusta, Deus de merda, porque não levou Alice, ou nosso jardineiro? Tanta gente que não merecia estar aqui; gentinha, gente pequena, animais. E quanto a mim? Como fico? Vida injusta, porque? Será que posso achar outrem para fazer o que mamãe fazia? Bem que poderiam vender mães por aí, mas teriam que ser tão eficientes quanto a minha. Dar conta de uma mansão daquelas, daquele tanto de subordinados e ainda sair com meus filhos, olhar as plantas. E agora, como eu fico? Pisaram no meu calo, agora vão sentir o poder do meu salto.

O velório havia chego ao fim. Madame M cumprimentou aos amigos que vieram das mais distantes cidades para dar um último adeus a tão bela senhora. Entraram no carro e voltaram para casa sem nem aguardar o sepultamento. Parem de chorar pestes, já estaremos em casa. O carro estacionou e todos desceram. Entrou pela sala com um ar soberbo e assustador. Encarou aos empregados.

- Todos para seus aposentos – ordenou sem pestanejar.

Viraram as costas e, sem fazer qualquer questionamento, saíram.

- Você não, Alice. Você fica.

Sem entender a moça voltou.

- Hoje quero que todos almocem juntos. Minha santa mãe gostava muito de vocês e acredito que ficaria feliz em ver isso , seja onde estiver. Teremos uma mesa farta ... quando estiver pronto, avise aos empregados. E para cozinha, Alice.

- Sim, senhora... Senhora?

- O que foi, Alice?

- Achei tão bonita sua atitude – emocionou-se.

- Faça uma comida deliciosa.

- Certamente.

- Alice, melhor, vou acompanhá-la, quero ver como é que prepara nossos pratos.

- Será um prazer senhora.

As duas dirigiram-se a cozinha. Passado algum tempo Madame M, ainda com seu vestido negro, balançou um sino chamando a todos para almoçar. Eis surgiram, ainda meio sem entender o que ocorria, e sentaram-se a mesa que já estava posta. A luz baixa que a iluminava fazia refletir o brilho das louças de prata e dava brilho às taças de cristal. A vibração do sino podia ser sentida como uma onda sísmica que atravessava todos os objetos. Ouviu-se um sussurro. Sentada entre seus dois filhos, Madame M ergueu elegantemente uma linda taça, quase um cálice sagrado.

- Tomai e comei. Mamãe vai gostar. Mamãe vai adorar.

Todos comiam sem modos algum. Nunca tinham visto tanta comida em um almoço. Madame M servia, sorrindo, cada um de seus filhos com garfadas generosas de porco assado. Observava a situação com uma falsa doçura. Malditos.

Olhou para Alice e acenou com a mão enquanto comia uma folha de alface.

Já Alice ensaiava algumas lágrimas entre um pedaço de porco e um gole de vinho enquanto suspirava.

- Eis que estou convosco até o fim.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um homem comum, de uma vida comum, de uma alma comum.

Eu alí
e se?

Eu aqui
e se?

Vida Imperativa

Acorde! Não deixe um minuto para trás. Tempo é ouro em dias como o de hoje, é jóia de monarquia extinta, é peça única de museu egípcio, é raridade rara. Desperte! A vida passa diante dos seus olhos e há de se escolher entre enxergá-la ou dar de ombros, experimentá-la ou deixá-la ser, sem o intento, compromisso ou formalidades que nos exigem. Levanta! Que já te esperam ansiosos, que já precisam, já preparam, já encontraram e já perderam o que um dia você buscou. Lutou tanto por um pedaço mínimo de alegria que, quando de fato a conquistou, não lhe deu o seu devido valor. Alegria também é tempo e, se é tempo, passa. Seque as mãos, pois se escorregadias estiverem desista de qualquer conquista.