segunda-feira, 7 de março de 2011

Terapia

É como se estivesse embriagado. Como se meu corpo já não respondesse às minhas ordens, ao meu sentido. O real confunde-se com a fantasia e traz o lúdico (o louco e o insano?) como a única realidade. Meus olhos fecham-se lentamente e piscam na tentativa de que eu os mantenha juntos por mais que alguns segundos. E é neste momento que me sinto a vontade para escrever, que me sinto livre e um pouco mais eu. Um eu que muito se revela apenas no cair da madrugada, junto aos carentes anônimos noturnos surge o real (ou pelo menos um retrato fiel do que seria o real) escritor apaixonado.

Sem vestígio de vergonha alguma, bato ensandecido o dedo nas teclas. O corpo sente a falta da nicotina, não há nada nas veias para acelerar e – num paradoxo único, meu – acalmar os ânimos para melhor dar forma as letras. Se tivesse um maço, aqui e agora, pararia por alguns minutos – sete – e puxaria o tabaco com a vontade de quem há dias não prova d’água.

Há muito no mundo para se escrito, há muito no homem para ser descoberto. Os primeiros obstáculos que se encontram, seja qual for a busca que se inicia, são a ansiedade, a angústia e o medo – de falhar? Entregar-se por inteiro, aventurar-se em direção ao desconhecido, jogar-se ao nada há procura do todo, mesmo que para isso haja o risco de espedaçar-se por completo. Sempre fui assim, intenso. Nunca gostei das coisas pelas metade, nunca procurei por meio carinho, meio amigo, meio amor. O mediano, o medíocre, não me provoca. Gosto do que me desafia, do que me faz sentir, do que me dá a certeza de que estou vivo. Se estou vivo, sofro, sorrio, caminho e continuo. Sempre estive disposto a lidar com o que me aparece pelo caminho, com o que o destino joga pela estrada e que numa falsa intimidade grita “ se vira”. Era bom assim, apesar das tensões criadas por uma rotina tediosa eu conseguia me guiar, até que algo me tirou do eixo. Uma Paixão, sim com p maiúsculo, me foi colocada como desafio.

Aquariano com ascendente em câncer – muito do que aconteceu poderia ser resumido com essa única frase, se sabe dos signos, sabe do que digo. Eu nunca havia passado por tamanho caos, o destino parecia querer me provar mais do que nunca, de que sim : corria sangue pela minhas veias e a vida estava latente, pulsante.

Da alegria extrema a indícios de depressão – diagnosticada por médiuns e médicos. Hoje, consigo analisar de fora, me envolvendo menos, e ver como fiz coisas erradas e como a vida foi me dando sinais de como tudo acabaria – mas eu, imaturo e teimoso, recusei-me a ver. Tão grandiosa foi e experiência que consegui, com facilidade, conhecer-me melhor. Descobri um eu muito mais autêntico, mais crescido, mais homem depois do ocorrido. Eu havia crescido e foi preciso muita dor para isso. Eu havia crescido e descoberto um de meus maiores medos e, ultimamente, companheira constante: a solidão.

Sempre fui muito sozinho, mesmo quando criança já gostava de ter o meu espaço e de poder construir-me como ser humano sem grandes dependências. O vazio, o silêncio pode ser tão prazeroso, quanto duro, dependendo da situação da vida em que nos encontramos. O processo de autoconhecimento, tão necessário para a evolução espiritual ( e terrena, por que não?), é doloroso e nada fácil. Difícil aceitar como as coisas acontecem, difícil lidar com o que não esperamos, com o novo, com o diferente, com o que diverge e nunca se encontra – paralelas. Seria eu uma linha paralela? Encontrar-me-ia em pleno vácuo em uma busca constante para nunca encontrar? Viver dessa maneira, esperando algo que nunca vai acontecer, é sofrer e saber porque se sofre. Acostumar-se com a solidão ou buscar pelo novo mesmo quando o novo não faz sentindo e não te cativa? Se não me cativa, dispenso e passo adiante.

Existem coisas na vida que são insubstituíveis e nelas incluo pessoas. O sorriso, o toque, as manias – coisas que ficam, e não simplesmente passam. Os momentos, as conversas os beijos – coisas que marcam, e não simplesmente acontecem. Escolho pela solidão por preferir assim, por acreditar que nada possa substituir o que um dia já senti, e isso me assusta.

Me causa espanto por ser decisão minha e por eu estar trilhando um caminho no qual posso me perder – ou já estaria eu perdido? Ando pelas trilhas sem deixar migalhas de pão, ando desatento seguindo adiante despreocupado, com a cabeça leve e o coração – ah, sempre o coração – repleto, cheio e saturado. Estou só, ecoa pela minha mente. Estou só. Uma aflição começa a preencher todo meu vazio emocional e a desordem se instaura. Choro, grito e durmo. Choro, grito e durmo. Cíclico assim. Me dá medo isso, me dá medo a solidão. O estar só sempre me foi muito querido, sempre muito almejado. E quando, de fato, conquistamos o que queremos – ou os anjos, do céu, dizem amém – nos perguntamos : e agora?
Faço minha prece e deito. Que seja como deve ser.

- Entendi. E como você se sente a respeito disso?

Nenhum comentário: