sexta-feira, 4 de março de 2011

Ensaio: O Homem pós-moderno e a convicção do Não

Escolhas, direções e melhores destinos. Nunca foi fácil saber por onde ir, nunca foi certo que o caminho a ser seguido fosse nos trazer o que tanto almejamos. Existe um vazio que fica, e que por ser tão imenso chega a causar eco com uma simples respiração ofegante, respiração essa provocada pelas incertezas, pelo medo, pela ansiedade de ser incapaz de conquistar o que se planeja.

Há aqueles que, certos de sua derrota, já não procuram, se deixam levar. Vagam pelas grandes metrópoles (ou pequenos povoados – isso já não importa) na esperança de que o destino lhes reservem uma miserável migalha de esperança. O ânimo, a essência da alma humana, já não existe. Em compensação, temos a dor, a fraqueza, a ilusão. Apesar de saber que nada seria fácil e que se propôs a isso, tempos antes de aqui estar, fica impossível assimilar certas mazelas sem sentir-se frustrado e incapaz. Sua única certeza (convicção e crença) é o não. Três letras presentes no caminho do homem, três letras costuradas em seu destino como se faziam as antigas mulheres que cuidavam dos teares. Três letras enraizadas em seu corpo, físico e espiritual, como uma grande mangueira no auge dos seus 120 anos.

O homem enfraqueceu. Perdeu a vontade de se descobrir, já não sabe se reinventar. Aceita, de cabeça baixa, o que lhe é colocado sem ao menos se questionar. Engana-se, e muito, quando através de alguma reflexão barata e imbecil pensa estar recuperando o que foi perdido, trazendo a tona o que está oculto. O homem pós-moderno toca a superfície com a ponta dos dedos e contenta-se com isso. Não existe a ânsia pelo novo, pelo incrível, pelo inimaginável. “Vejo o que toco, toco o que vejo e isso me basta”. Ele não se ama e, consequentemente, a caridade quase inexiste. Não ama ao outro, porque não ama a si mesmo. O ser individual prevalece sobre todas as coisas, a amargura egoísta e a maldade egocêntrica dominam as escolhas, prevalecem sobre os mais belos sentimentos que já existiram. O caos domina e traduz, quase que perfeitamente, o que existe interiormente.

Abstrata, a felicidade escorre pelas suas mãos e que, por não ser sólida, se desfaz pelo ar. Perdida, vaga entre um grão e outro de poeira em busca de alguém que esteja disposto a aceitá-la da maneira como chegar. Sem mais idealizações, sem mais essa busca incessante pelo perfeito, ela chega tímida e vai embora num piscar de olhos, por isso é difícil tê-la sempre por perto. Hoje, pior do que ontem, o homem conflituoso e incerto do que busca já não passa nem perto de tocá-la e contenta-se com isso, com o “não ter”.

Compartilhar causa-lhe dor, ajudar não lhe dá lucros, se doar não lhe dá vantagens. O ego se sobrepõe e destrói tudo por onde passa, sem piedade. E ele continua aceitando, continua vendo na desgraça alheia (e na própria) motivos para mais destruição. Aceitar o não, por mais cômodo que seja, talvez seja a pior coisa que o homem tenha feito. A vida não se transforma, a sociedade não se modifica e homem não cresce. Nos entregamos, a cada dia, a nossa maior tragédia.

3 comentários:

francielle pracidelli disse...

excelente texto, mesmo; impossível ler sem concordar com cada frase, sem dizer "é bem isso, é BEM isso"

jean michel disse...

Obrigado Fran =)
Precisava por isso pra fora, tava na minha garganta!

Beijão

rafa, eu disse...

Rafael liked this.