domingo, 11 de janeiro de 2009

Any Mayer

Capítulo 1

Era pra ser mais um dia. Normal, como os outros. Comum, para uma pessoa comum, como eu. O sol invadia meu quarto com tamanha força que, ao abrir os olhos, tive a sensação de que minhas retinas queimavam; uma lágrima caiu instantaneamente. Levantei-me lentamente, como de costume, tirei meu pijama estampado com flores e decorado com lantejoulas – cafona, mas era presente de minha mãe, eu a amava, eu o usava - e me dirigi para o banheiro. Tomei meu banho; frígida, ensaiei uma masturbação, me sequei e voltei ao meu quarto. Vesti uma calcinha que ganhei de natal de minha avó – vermelha e com babados em azul-marinho -, um velho e surrado jeans e uma laforet roxa. Estava animada, e geralmente quando estou com um bom estado de espírito, arrisco usar meu all star verde (desbotado pelo tempo) que comprei aos 15 anos, ou seja, dois anos atrás.

Desci as escadas e avistei a mesa; lá estava Arns, meu pai, e Leslie, minha mãe, ambos me esperavam para o tradicional café em família, - cabe acrescentar que em nossa casa tudo era extremamente simples, não víamos no luxo uma solução para nossa infelicidade; vivíamos, e isso já bastava- café, pão e margarina, sempre. Essa era nossa realidade, e sabíamos lidar bem com ela.

- Any, meu amor, sente-se a mesa! – disse minha mãe, antes mesmo que eu descesse às escadas; era nítida minha pressa.

-Mãe, pai, desculpe-me, é que estou muito atrasada – objetei enquanto pegava minha mochila que se encontrava jogada ao lado do nosso velho sofá. Leslie murmurou alguma coisa e despediu-se de mim com um aceno de mãos; Arns, meu pai, ficou indiferente, como sempre.

O caminho até o colégio não era longo, nem curto: era o caminho até o colégio- algo que me irrita é calcular tempo e distância; o professor Carl, sabe bem do meu drama, minhas notas em física não me deixam mentir; então não calculava nada, só andava, seguia em frente, tipo Johnnie Walker.

Eu dificilmente reparava em detalhes, mas naquele dia – em que a luz entrou em meu quarto (e em minha vida?) como uma intrusa- comecei a perceber, ou ao menos tentar perceber, o mundo a minha volta. Árvores, flores de todas as cores, pássaros, pessoas – existiam muitas em Nortonville, não sei ao certo quantas. O céu já estava claro, o clima era ameno (havia acertado na escolha da roupa), um vento insistia em cortar meu rosto, trazendo toda poeira e folhas da cidade contra minha pele oleosa e com algumas espinhas.

Passado alguns minutos já estava em meu colégio. Sentia algo de diferente no ar; não acreditava em sexto sentido e, certamente, não me via como uma pessoa sensitiva; mas sentia que algo grandioso aconteceria, era perceptível – ao menos para mim – que uma mudança estava para ocorrer. Como de costume, me encaminhei – sempre atenta e a alerta aos possíveis sinais- até minha sala. As aulas passaram normalmente, uma atrás da outra; o dia estava sendo comum; estava sendo normal, estava como sempre fora.

Meio dia. Fim da última aula. Enquanto o professor terminava de passar as instruções para um trabalho prático de biologia, eu , ansiosa como sempre, já guardava meus materiais e imaginava o que estaria por vir, o que mudaria na vida de Any Mayer. “Então é isso, até semana que vem pessoal.”, essas palavras eram como um copo de cerveja extremamente gelado em um dia quente na Califórnia. Peguei minhas coisas e saí da sala.

No colégio, não me encaixava em nenhum “grupo social”: era feia demais para ser líder de torcida, inteligente de menos para o grupo de xadrez, desastrada demais para o time de vôlei, esquisita de menos para ser gótica. Não tinha amigos – hum, a não ser a Dulce, dona da lanchonete, que sempre conversava comigo sobre beterrabas e a falta de educação de alguns meninos na hora de comer. Eu não me importava com isso, mesmo. Sempre gostei de estar, como dizia minha mãe, a margem da sociedade. Ás vezes eu chegava a pensar que não era desse planeta – estes pensamentos exteriorizados me custaram 10 sessões com uma psicóloga amiga de Leslie.

Como disse, a aula havia acabado e nenhum sinal da “grande mudança”. Sentei em um banco que ficava em frente ao meu colégio, assistindo a uns meninos que faziam manobras radicais com seus skates – pelo amor de Deus; já estava desencantada com a possibilidade de mudanças.

Estava exausta, não queria mais ficar ali – os garotos de skate me aborreciam-, levantei-me e me dirige ao portão de saída. Havia dois grandes muros que sustentavam o velho portão enferrujado, tais muros limitavam a área de visão das pessoas que e entravam e saiam do lugar. Eu , distraída , me dirigia cada vez mais rápido – e sem sequer olhar para frente- para a saída.

-Ai! – uma voz gritou. Percebi que com minha pressa havia esbarrado em alguém.

- Me desculpe! Como pude não ver você – disse ainda de cabeça baixa, recolhendo os cadernos da pessoa com quem havia entrado em choque – Nossa , me desculpe mesmo! Como sou .....desastrada. Levantei o rosto rapidamente para tentar identificar com quem conversava, fiquei meio desorientada, a velocidade do meu movimento me fez perder o senso de equilíbrio. Caí.

Segundos depois, ví uma mão com as unhas bem feitas, com um esmalte em tons de vermelho-vinho me oferecendo ajuda para levantar. Aceitei. Quando peguei a mão da pessoa ,cujo o rosto ainda era desconhecido , senti um frio imenso na barriga, algo que nunca sentira antes. Fiquei inerte por um tempo – estava tentando controlar e identificar as emoções e sensações que passavam pela minha mente.

O dia continuava lindo. O sol continuava a pino.


4 comentários:

diana stivelberg disse...

Jeannn!!
Não sabia da existência deste blog. Li vários textos, adorei o jeito que vc escreve. Mesmo.

Agardo o próximo capítulo.. hihihi

Saudadees de vc
Bjão

Anônimo disse...

Adooorei, quero mais =D

Vem ca, vc ta lendo stephenie meyer ultimamente?

jean michel disse...

dica! obrigado por ter passado por aqui (:

__

luã, tenho lido stephenie meyer sim...é nítida a influência né? (:

Francisco Mallmann disse...

Jean,
Adorei o texto, adorei as palavras, adorei as sensações!

Adoro o modo como constrói os textos, colocando as palavras encaixadas exatamente onde elas devem estar!


http://desviomorbidodarazao.blogspot.com/